Taiwan admite que usou aparelhos da Huawei e expôs base militar à inteligência chinesa

Empresa de tecnologia poderia ser forçada a entregar a Beijing eventuais dados coletados junto às Forças Armadas taiwanesas

O Ministério da Defesa Nacional de Taiwan confirmou nesta semana que uma base militar do país vinha utilizando aparelhos de comunicação da Huawei, expondo-se assim ao risco de ter informações extraídas pela inteligência da China. As informações são do site Taiwan News.

Uma investigação conduzida por Huang Kuo-chang, um parlamentar do Partido Popular de Taiwan (TPP), confirmou que a base militar de Hongchaolin vinha utilizando dois roteadores da Huawei e um leitor de dados da Advantech, ambas empresas chinesas.

Ocorre que os fornecedores chineses de equipamentos de telecomunicações enfrentam crescente desconfiança global, com sua presença rejeitada em vários países. Embora seja a principal atingida pelas suspeitas, a Huawei não é a única.

Prédio da Huawei em ShenZhen, na China (Foto: Wikimedia Commons)

A desconfiança é baseada na suposta proximidade das companhias do setor com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar as gigantes da telefonia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).

Ao constatar que a aparelhagem estava instalada na base, Huang determinou a rescisão dos contratos de fornecimento e pediu que os responsáveis sejam punidos. Ele ainda identificou uma série de outros aparelhos que, embora sejam de marcas ocidentais, foram fabricados na China.

De acordo com a Agência Central de Notícias (CNA), serviço jornalístico semioficial de Taiwan, os contratos serão analisados, e os responsáveis pela presença dos aparelhos chineses tendem a ser penalizados.

Além da possibilidade de a Huwei e a Advantech terem que fornecer a Beijing dados coletados por seus aparelhos, a presença desses aparelhos poderia expor a base militar a um risco de invasão de hackers chineses.

O temor é o de que se repita um caso registrado em janeiro de 2017 na sede da União Africana (UA) na capital da Etiópia, Adis Abeba. O bloco descobriu na ocasião que os servidores do edifício enviavam diariamente, durante a madrugada, dados sigilosos a um servidor na China e que o prédio estava repleto de microfones escondidos.

Os servidores foram trocados, mas um problema semelhante se repetiu em 2020, quando os novos servidores foram invadidos por hackers chineses que roubaram vídeos de vigilância das áreas interna e externa.

Não por coincidência, o prédio havia sido construído com financiamento chinês, por uma construtora chinesa. E os servidores originais, aqueles de 2017, eram chineses. Esse episódio, com o qual Beijing nega ter relação, explica a desconfiança generalizada com a infraestrutura digital proveniente da China.

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