Quatro ex-funcionários do Partido Democrático Progressista (DPP), atualmente no poder em Taiwan, foram condenados por espionagem a favor da China, recebendo penas de prisão de até 10 anos. O caso expõe o aumento das tensões entre Taipé e Beijing e reforça a política de segurança nacional mais rigorosa adotada pelo presidente Lai Ching‑te. As informações são do The Guardian.
Entre os condenados está um ex-assessor de Lai durante seu mandato como vice-presidente e parte de sua presidência atual, além de um alto funcionário ligado a Joseph Wu, então ministro das Relações Exteriores e hoje chefe de segurança nacional.

Os crimes e as penas aplicadas
Huang Chu-jung, ex-assistente de um vereador de Nova Taipé, recebeu a pena mais severa: 10 anos de prisão. Ele também foi condenado por lavagem de dinheiro e multado em 1 milhão de dólares taiwaneses (aproximadamente R$ 178,4 mil), além de enfrentar acusações separadas de “organizar uma rede criminosa” para a China.
O tribunal determinou que Huang transmitia informações sigilosas a agentes de inteligência chineses por meio de software criptografado. Ele ainda teria instruído Chiu Shih‑yuan, ex-vice-diretor do Instituto de Democracia de Taiwan do DPP, uma escola de formação para políticos e funcionários, a obter dados junto a Joseph Wu. Chiu foi condenado a seis anos e dois meses de prisão. Enquanto Huang negou irregularidades, Chiu se declarou culpado.
Os promotores solicitaram penas mais longas e avaliam recurso contra as decisões.
Contexto político
Taiwan, uma ilha autônoma reivindicada pela China, mantém alto nível de alerta contra ameaças de espionagem chinesa. Desde que assumiu a presidência, Lai Ching‑te adotou uma postura mais rigorosa do que sua antecessora, Tsai Ing-wen, contra pessoas suspeitas de ter ligações pró-China.
Em março, Lai classificou a China como uma “força estrangeira hostil” e reforçou as medidas de segurança nacional, incluindo propostas controversas para restaurar um sistema de tribunais militares. Nos últimos meses, o governo intensificou a repressão contra cidadãos que possuem documentos de identidade chineses de forma ilegal.
Lai defende que essas ações, criticadas por restringir a liberdade de expressão, são essenciais para conter infiltrações na “zona cinzenta” envolvendo o exército, o governo e a sociedade taiwanesa.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.