Nos bastidores do intenso conflito político entre Taiwan e China, um novo campo de batalha surge: a influência digital. Autoridades taiwanesas alertaram que alguns influenciadores online estão sendo utilizados como ferramentas de propaganda pelo Partido Comunista Chinês (PCC), revelando uma faceta moderna da guerra cognitiva entre os dois lados do Estreito de Taiwan. As informações são da Radio Free Asia.
As denúncias ganharam força após o youtuber Ba Jiong, criador do canal Fun TV — que conta com mais de um milhão de inscritos —, divulgar um vídeo detalhando supostos conluios entre influenciadores taiwaneses e a Frente Unida de Beijing. Este departamento do PCC, encarregado de promover interesses chineses no exterior, estaria financiando criadores de conteúdo para disseminar mensagens pró-China. O vídeo causou alvoroço ao alcançar mais de 2 milhões de visualizações em 48 horas, expondo a profundidade dessa tática de propaganda.
O Conselho de Assuntos do Continente de Taiwan reagiu com preocupação, destacando que as celebridades digitais se tornaram peças-chave nas estratégias do PCC para influenciar a opinião pública em Taiwan. De acordo com o governo, Beijing está cooptando influenciadores para produzir conteúdo que favoreça sua agenda, critique as políticas democráticas da ilha e incentive a aproximação com o continente.
“Esses esforços fazem parte de uma guerra cognitiva que não pode ser subestimada”, afirmou o órgão em comunicado. Segundo as autoridades, qualquer envolvimento que infrinja as leis de segurança nacional será punido.
O impacto das revelações é significativo, considerando que Taiwan, uma ilha autônoma e democrática desde 1949, vive sob constante pressão de uma China que não descarta o uso da força para reunificação.
Subornos e incentivos
No vídeo, Ba Jiong contou com a colaboração do rapper taiwanês Chen Boyuan, que já foi visto como favorável à China, mas decidiu expor os bastidores dessa influência. Gravações mostram um representante do jornal estatal The Strait Herald oferecendo apoio financeiro a Chen, enquanto um membro da Frente Unida prometia subsídios para transporte de participantes em eventos pró-unificação.
O vídeo também revelou que influenciadores são orientados a produzir conteúdo cultural que evite política explícita, mas que reforce a ideia de laços históricos e culturais entre os povos dos dois lados do Estreito. Segundo Ba Jiong, isso permite à China “acalmar” o público taiwanês enquanto promove sua narrativa.
Huang Chao-nian, professor associado da Universidade Nacional Chengchi e especialista em estratégias chinesas de influência, afirma que a China utiliza o “soft power” de forma sistemática para mascarar suas intenções. “Embora pareça promoção cultural, há subornos e incentivos nos bastidores”, disse Huang. Ele também alertou para os riscos de mobilização estratégica, mesmo com influenciadores de menor alcance.
O governo taiwanês destaca a importância de fortalecer a conscientização pública e a mídia local como forma de combater a propaganda chinesa. Ao mesmo tempo, observa-se uma crescente mobilização social para expor e desmascarar essas práticas, com figuras como Ba Jiong liderando o movimento.