‘Não há forças que possam nos separar’, diz Xi sobre reunificação entre China e Taiwan

Presidente se manifestou em encontro histórico com ex-líder taiwanês, uma tentativa de solucionar a questão diplomaticamente

O presidente da China, Xi Jinping, teve na quarta-feira (10) uma reunião histórica com Ma Ying-jeou, ex-presidente de Taiwan. Mantendo o discurso habitual, o líder do Partido Comunista Chinês (PCC) disse que a reunificação é uma questão de tempo: “Não há forças que possam nos separar”, declarou ele, segundo o jornal South China Morning Post.

O encontro foi o primeiro ocorrido na China entre um líder ou ex-líder taiwanês com o governo local desde a separação em 1949. E marca mais uma tentativa de Beijing de tentar solucionar a questão de forma diplomática, embora já tenha deixado claro que recorrerá à força se assim for necessário.

“Os compatriotas dos dois lados são ambos chineses. Não há rancor que não possa ser resolvido. Não há problema que não possa ser discutido. E não há forças que possam nos separar”, disse Xi após o evento, acrescentando que nem a “interferência estrangeira” impedirá o que chamou de reunião “familiar”.

Xi Jinping: reunificação com Taiwan acontecerá, cedo ou tarde (Foto: UN Geneva/Flickr)

Ma também usou o encontro para apostar na paz, mas admitiu “as recentes tensões entre os dois lados” geraram “um sentimento de insegurança entre o povo de Taiwan.” E acrescentou: “Se houver guerra, será insuportável para a nação chinesa, e os dois lados do Estreito [de Taiwan] têm a sabedoria para lidar com as suas disputas pacificamente.”

Ma foi presidente de Taiwan até 2016, pelo partido de oposição Kuomitang (KMT), que mantém uma relação cordial com Beijing. Desde então, a ilha é governada pelo Partido Democrático Progressista (DPP), que tem uma posição firme contra a reunificação e a favor da independência taiwanesa.

Antes das eleições presidenciais em Taiwan, realizadas em janeiro, o governo chinês chegou a costurar um acordo entre o Kuomitang e o Partido Popular de Taiwan (TPP) na tentativa de derrotar o candidato do DPP. Mas o pacto falhou, e o situacionista Lai Ching-te saiu vitorioso.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse Xi no 20º Congresso do PCC. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

Tags: