Taiwan tem conquistado aliados no cenário internacional por meio de intercâmbios culturais, enquanto o Partido Comunista Chinês (PCC) adota uma postura agressiva, segundo afirmou o ministro das Relações Exteriores da ilha, Lin Chia-lung, em entrevista concedida em Praga. As informações são do Taipei Times.
Lin iniciou na quarta-feira da semana passada uma viagem à Europa, com primeira parada na República Tcheca. O restante de sua agenda foi mantido em sigilo para evitar interferências de Beijing.
Na quinta-feira, o ministro participou da abertura da exposição “Cem Obras-Primas Selecionadas do Museu do Palácio Nacional e Suas Histórias”, realizada no Museu Nacional de Praga. A iniciativa reúne artefatos históricos chineses preservados em Taiwan, destacando o valor do intercâmbio cultural entre museus nacionais, sem motivações políticas, reforçou Lin.

O Escritório de Assuntos de Taiwan da China (TAO) criticou a exposição, acusando o governo taiwanês de promover a “independência cultural” e de afastar a influência chinesa. Lin rebateu, afirmando que os artefatos são parte da civilização mundial e pertencem ao patrimônio de toda a humanidade.
Ele lembrou que o conceito de “China” como Estado surgiu apenas posteriormente na história e que, durante a Revolução Cultural, o PCC destruiu muitos artefatos históricos na tentativa de eliminar os “Quatro Velhos”: ideias, cultura, costumes e hábitos. A preservação desses itens em Taiwan, afirmou, contribuiu para proteger uma importante herança cultural.
“Taiwan está fazendo amigos no mundo por meio da cultura, enquanto tudo para o PCC deve servir à política”, afirmou Lin. Ele também criticou o comportamento internacional da China, que se posiciona como um “guerreiro lobo”, mas, segundo ele, isso revela apenas insegurança e falta de autoconfiança.
Lin ressaltou que Taiwan é uma sociedade livre e democrática que valoriza diferenças culturais, em contraste com a postura uniformizadora do PCC, evidenciando a divergência significativa entre os dois lados no campo cultural.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.