Taiwan decidiu proibir instituições acadêmicas do país de manterem intercâmbio com duas universidades chinesas, após relatórios indicarem que elas estão diretamente subordinadas ao Departamento de Trabalho da Frente Unida, ligado ao Partido Comunista Chinês (PCC). A informação foi confirmada pelo ministro da Educação, Cheng Ying-yao e divulgada pelo jornal Taipei Times.
As universidades chinesas Huaqiao, com campus em Xiamen e Quanzhou, e Jinan, localizada em Guangzhou, têm 600 e 1,5 mil estudantes taiwaneses matriculados, respectivamente. No entanto, de acordo com Cheng, ambas estão sob controle direto do governo chinês e desempenham um papel estratégico na política de influência de Beijing sobre Taiwan.
Uma fonte anônima relatou que a Universidade Huaqiao adota padrões de admissão extremamente baixos para estudantes taiwaneses e que seus programas de pós-graduação têm cotas fixas para alunos da ilha. A intencionalidade da política de recrutamento preocupa autoridades taiwanesas, que veem na iniciativa uma tentativa de ampliar a influência de Beijing sobre jovens do território.

Na terça-feira, o rapper taiwanês Chen Po-yuan, conhecido como Mannam PYC, que estudou na Universidade Huaqiao, afirmou que os professores da instituição ensinavam o “pensamento de Xi Jinping” e promoviam críticas aos Estados Unidos. “Quando me inscrevi por um programa especial, a Universidade Huaqiao aceitava qualquer candidato taiwanês, mesmo sem diploma do ensino médio”, revelou.
Questão de segurança nacional
O veto ao intercâmbio será oficializado em reunião anual com reitores de faculdades e universidades taiwanesas, segundo Cheng. O bloqueio abrangerá todas as instituições públicas e privadas de Taiwan, incluindo escolas técnicas e vocacionais, que ficariam impedidas de colaborar com as duas universidades chinesas. “As instituições que desrespeitarem a proibição terão seus subsídios governamentais retirados”, afirmou o ministro.
A decisão se insere em um contexto mais amplo de preocupação com a segurança nacional. Segundo Cheng, Beijing usa programas acadêmicos para direcionar sua estratégia de influência sobre estudantes taiwaneses. Ele destacou que as instituições acadêmicas de Taiwan têm o dever de proteger seus alunos de possíveis tentativas de manipulação política.
A Constituição taiwanesa garante o direito à educação, mas, segundo Cheng, as universidades Huaqiao e Jinan não cumprem esse papel de maneira neutra, dado o envolvimento direto da Frente Unida. O ministro lembrou que Taiwan já proíbe colaborações acadêmicas com instituições administradas pelo Ministério da Defesa da China, reforçando que a nova restrição segue a mesma lógica.
Apesar da proibição, a restrição se aplica apenas às instituições acadêmicas de Taiwan. Cheng ressaltou que estudantes taiwaneses continuam livres para se matricular onde desejarem, uma vez que o Ministério da Educação não tem autoridade para regular decisões individuais sobre estudos no exterior.
A preocupação com a influência acadêmica da China não é recente. Em julho do ano passado, o Conselho de Assuntos do Continente emitiu um alerta elevando o nível de risco para viagens acadêmicas à China, recomendando cautela a estudantes taiwaneses interessados em eventos acadêmicos no país.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.