Taleban do Paquistão assume autoria de ataque que matou ao menos três militares

Uma fonte da inteligência paquistanesa desmente a versão oficial do governo e afirma que, na verdade, seis soldados morreram

Ao menos três soldados do exército do Paquistão foram mortos num confronto com extremistas na região noroeste do país, na quarta-feira (30). Fontes de segurança paquistanesas confirmaram oficialmente o incidente e o número de mortos, dizendo ainda que três agressores foram neutralizados, de acordo com a rede Radio Free Europe.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, assumiu a autoria do atentado, que ocorre cerca de uma semana após a morte de um de seus líderes, Abdul Wahab Lark, atacado por dois homens armados não identificados.

No atentado desta quarta (30), os combatentes do TTP atacaram uma guarnição das forças armadas paquistanesas no distrito de Tank, província de Khyber Pakhtunkhwa, de acordo com o oficial de polícia Waqar Ahmad. A troca de tiros entre militares e extremistas teria se estendido por horas, segundo o policial.

Diferente da versão oficial divulgada por Islamabad, que fala em três militares mortos, um agente de inteligência paquistanês afirmou que foram seis as vítimas fatais entre as tropas do exército, além de 22 feridos.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão (Foto: reprodução/Twitter)

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP. Eles chegaram a firmar um acordo de cessar-fogo no ano passado.

A trégua, porém, foi interrompida no dia 10 de dezembro de 2021, exatamente um mês após ter sido iniciada. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que o cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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