Temendo ataque inspirado no Hamas, Índia reforça defesa na fronteira com o Paquistão

Tensão vem aumentando na disputada região da Caxemira, onde Nova Délhi ampliou as defesas sob a alegação de que uma invasão pode ocorrer

O governo da Índia anunciou na quinta-feira (1º) o fortalecimento militar de parte da sua fronteira com o Paquistão, na disputada região da Caxemira. A tensão entre os dois vizinhos está elevada, e Nova Délhi diz temer um ataque paquistanês inspirado na operação do Hamas contra Israel em 7 de outubro do ano passado. As informações são da revista Newsweek.

“O emprego de meios inovadores pelo Hamas durante o ataque a Israel, em 7 de outubro de 2023, ligou o alarme entre as agências de segurança em todo o mundo”, justificou o porta-voz do Exército indiano, coronel Sudhir Chamoli, acrescentando que “as medidas necessárias foram instituídas” a fim de “impedir quaisquer tentativas maliciosas” por parte de Islamabad.

Tenente-coronel Sabath Kumar fala fuzileiros indianos, novembro de 2019 (Foto: WikiCommons)

Embora a fronteira total entre os dois países seja de cerca de 3,3 mil quilômetros, o principal foco de tensão está concentrado nos cerca de 800 quilômetros da Linha de Controle, que marca a divisa de fato entre as nações na Caxemira. Às forças indianas foram ampliadas especialmente na região indiana de Jamu e Caxemira (J&K).

De acordo com o coronel, Nova Délhi “estabeleceu robustas redes de combate à infiltração e ao terrorismo” na área, com uso de tecnologia capaz de alertar as Forças Armadas em caso de invasão, inclusive por drones e outros veículos não tripulados.

Trata-se de um dos pontos de conflito mais perigosos e também uma das zonas mais militarizadas do mundo, onde uma rebelião eclodiu em 1989. De maioria muçulmana, a Caxemira é disputada pelos dois países desde que Nova Délhi e Islamabad conquistaram a independência do Reino Unido e se dividiram, em 1947.

As nações já travaram duas guerras pelo território, e desde 2019 a situação tornou-se mais tensa devido à decisão do primeiro-ministro indiano Narendra Modi de acabar com status semiautônomo da Caxemira. Paralelamente, ele adotou uma série de medidas para reforçar o combate a grupos separatistas que atuam na área e que a Índia diz serem patrocinados pelo Paquistão.

Islamabad, por sua vez, acusa a Índia de apoiar grupos extremistas como o Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, e organizações extremistas balúchis, que habitam a igualmente tensa fronteira paquistanesa com o Afeganistão

A guerra no Oriente Médio aumentou o distanciamento entre os dois vizinhos, com a Índia cada vez mais próxima de Israel, com quem firmou inclusive acordos de segurança. Já o Paquistão, um país de maioria muçulmana, chegou a afirmar, através de seu embaixador na ONU (Organização das Nações Unidas), Munir Akram, que “a causa palestina e a causa de Caxemira estão historicamente interligadas.”

Assassinatos a mando do governo

Em um desdobramento recente da crise, Islamabad alegou na semana passada ter evidências concretas de que agentes indianos realizaram dois assassinatos em solo paquistanês, comparando o incidente à execução de um ativista sikh no Canadá.

Segundo o secretário de Relações Exteriores paquistanês, Muhammad Syrus Sajjad Qazi, a Índia estaria conduzindo uma campanha “sofisticada e sinistra” de “assassinatos extraterritoriais e extrajudiciais” no Paquistão. Ele diz que agentes indianos utilizaram tecnologia e refúgios seguros no país para cometer os crimes, recrutando terroristas e até civis para desempenharem “papéis específicos”.

As vítimas seriam Shahid Latif e Muhammad Riaz, mortos a tiros em incidentes separados em 2023. Riaz foi morto enquanto orava em uma mesquita em Rawalakot, na Caxemira paquistanesa, em setembro. Já Latif foi morto fora de uma mesquita em Sialkot, na província de Punjab, em outubro.

De acordo com Qazi, o método adotado em ambos os assassinatos foi semelhante ao de casos registrados recentemente no Canadá e também nos Estados Unidos. Em 2023, ambos os países acusaram agentes indianos de estarem ligados a um assassinato e a uma tentativa, respectivamente.

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