Islamabad diz ter ‘evidências confiáveis’ de que agentes indianos assassinaram paquistaneses

Paquistão afirma que o modus operandi dos assassinatos assemelha-se aos casos ocorridos no Canadá e nos Estados Unidos

Islamabad alega ter evidências concretas de que agentes indianos realizaram dois assassinatos em solo paquistanês, comparando o incidente à execução de um ativista sikh no Canadá. Segundo o secretário de Relações Exteriores paquistanês, a Índia estaria conduzindo uma campanha “sofisticada e sinistra” de “assassinatos extraterritoriais e extrajudiciais” no Paquistão. As informações são do jornal The Guardian.

Muhammad Syrus Sajjad Qazi afirmou na última quinta-feira (25) que agentes indianos utilizaram tecnologia e refúgios seguros dentro do país para cometer os assassinatos, recrutando criminosos, terroristas e até civis para desempenhar “papéis específicos”. Nova Délhi negou as acusações, classificando-as como “propaganda falsa e maliciosa anti-Índia”.

Qazi identificou Shahid Latif e Muhammad Riaz como as vítimas, ambos mortos a tiros em incidentes separados no ano passado. Riaz foi morto enquanto orava em uma mesquita em Rawalakot, na Caxemira administrada pelo Paquistão, em setembro. Já Latif foi morto do lado de fora de uma mesquita na província paquistanesa de Punjab, em outubro.

O secretário destacou que o método dos assassinatos foi semelhante aos casos no Canadá e nos Estados Unidos. Em 2023, ambos os países acusaram agentes indianos de estarem ligados a um assassinato e uma tentativa, respectivamente.

Muhammad Syrus Sajjad Qazi, secretário de Relações Exteriores paquistanês (Foto: @syrusqazi/Reprodução X)

As acusações indicam que o governo indiano estaria realizando ataques direcionados contra dissidentes no exterior. Recentemente, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, mencionou “alegações críveis” ligando agentes indianos do assassinato do líder separatista sikh Hardeep Singh Nijjar, ocorrido em junho de 2023, no estado canadense da Colúmbia Britânica.

À época, Estados Unidos, Austrália e Reino Unido rejeitaram o pedido de Ottawa por declarações públicas acusatórias contra Nova Délhi. Trudeau, então, acabou isolado em sua missão de culpar a Índia pelo atentado contra o homem cuja morte causou indignação entre seus apoiadores e agravou as tensões entre os separatistas Sikh e o governo indiano.

Os EUA também acusaram a Índia de envolvimento em um plano de assassinato de Gurpatwant Singh Pannun, um ativista sikh em Nova York, que teria tido a participação direta de um agente indiano.

Rede de assassinatos

Tanto Latif quanto Riaz eram considerados terroristas pelo governo indiano devido ao envolvimento no movimento Khalistani, que busca a independência para os sikhs em Punjab.

Em coletiva de imprensa em Islamabad, Qazi apontou semelhanças entre supostos planos de assassinato no Paquistão e eventos no Canadá. Ele alega que ambos foram realizados a mando do governo indiano, possuindo detalhes dos passaportes dos agentes responsáveis pelos assassinatos no solo paquistanês.

O secretário ainda afirmou que a rede indiana de assassinatos extrajudiciais e extraterritoriais está se tornando um “fenômeno global”.

“Estes são casos de assassinatos de aluguel, envolvendo uma configuração internacional sofisticada, espalhada por múltiplas jurisdições”, disse Qazi, conforme repercutiu a agência Al Jazeera.

A Índia e o Paquistão, como rivais históricos, têm acusações mútuas, com Nova Délhi alegando que o Paquistão oferece refúgio a terroristas, especialmente na região disputada da Caxemira.

Independência

Os separatistas sikh buscam estabelecer um estado chamado Khalistão na região indiana de Punjab. O movimento tem apoio tanto na Índia quanto entre a vasta diáspora sikh global. Durante as décadas de 1980 e 1990, uma insurgência separatista em Punjab resultou na morte de milhares de pessoas, e em 2023 o governo indiano lançou uma extensa operação para capturar um líder militante local.

A partir dali, a perseguição aos separatistas e ativistas da causa se espalhou mundo afora. Foi o Canadá quem primeiro chamou a atenção para o possível envolvimento do governo indiano em crimes contra líderes sikh em solo estrangeiro, ao denunciar a relação direta de Nova Délhi com a morte de Hardeep Singh Nijjar.

Nijjar, de 45 anos, foi assassinado a tiros em Surrey, um subúrbio de Vancouver com uma significativa comunidade sikh. O incidente ocorreu três anos após a Índia rotulá-lo como “terrorista”. Supostamente, ele estava envolvido na organização de um referendo não oficial na Índia com o objetivo de estabelecer uma nação independente quando foi morto.

Antes de Nijjar ser baleado por homens armados mascarados, a Índia havia intensificado uma campanha para pressionar países como Canadá, AustráliaReino Unido e Estados Unidos, que abrigam comunidades sikh significativas e frequentes manifestações pró-Khalistão, pedindo a essas nações que reprimam esse movimento.

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