Terrorismo cresceu no Paquistão com ascensão do Taleban no Afeganistão, diz relatório

Think tank diz que 433 pessoas morreram e 719 ficaram feridas em 250 ataques terroristas a partir de agosto de 2021

O número de ataques terroristas no Paquistão aumentou 51% desde agosto de 2021, quando o Taleban assumiu o governo do vizinho Afeganistão. A afirmação é do think tank paquistanês Pak Institute for Peace Studies (PIPS), que publicou uma análise relacionando as duas ocorrências.

De acordo com a entidade, 433 pessoas morreram e 719 ficaram feridas em 250 ataques terroristas que ocorreram no Paquistão entre 15 de agosto de 2021 e 14 de agosto de 2022. No período correspondente anterior, entre 2020 e 2021, os números foram menores: 165 ataques, com 294 mortos e 598 feridos.

“O júbilo irracional pela vitória do Taleban agora está se transformando em um choque rude porque a situação de segurança em evolução sob o governo errático do Taleban indica que o Paquistão está prestes a enfrentar mais uma provação de terrorismo”, diz relatório do PIPS.

Soldado do exército do Paquistão, foto de novembro de 2018 (Foto: Wikimedia Commons)

O documento destaca algo que a ONU (Organização das Nações Unidas) já havia alertado anteriormente: sob o Taleban, o Afeganistão tornou-se destino preferencial de jihadistas. “Grupos terroristas estrangeiros baseados no Afeganistão tomam a vitória do Taleban como motivação para disseminar sua propaganda na Ásia Central e do Sul e globalmente”, diz o think tank.

Em maio, relatório do Conselho de Segurança da ONU afirmou que “a relação entre o Taleban e a Al-Qaeda permanece próxima” e que a organização terrorista tem no Afeganistão um “porto seguro”, com “maior liberdade de ação”. A Al-Qaeda, inclusive, teria usado a ascensão talibã ao poder como ferramenta de propaganda para se fortalecer globalmente, justamente o que reforçou agora o PIPS.

O Taleban do Paquistão

Um efeito prático negativo que a ascensão talibã teve no país vizinho foi o aumento da atividade do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. O grupo extremista dá indícios de estar retomando o controle de distritos tribais paquistanesas, sobretudo nas proximidades com o Afeganistão.

Os recentes ataques realizados pelo TTP sugerem que ele desistiu do cessar-fogo que negociava com Islamabad e tem retornado gradualmente a atuar em áreas onde sempre marcou forte presença. Agentes das forças de segurança do governo e civis voltaram a ser alvo de atentados desde setembro.

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, os dois Talebans são entidades separadas que apenas mantêm um bom relacionamento. Inclusive, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, com quem chegou a firmar dois acordos de cessar-fogo.

Entretanto, a relação entre talibãs e Islamabad azedou ultimamente, justamente em função do aumento da atividade terrorista no Paquistão. Um episódio recente escancarou as divergências. No dia 23 de setembro, o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif se manifestou na Assembleia Geral da ONU, dizendo que seu país “compartilha a principal preocupação da comunidade internacional em relação à ameaça representada por grandes grupos terroristas que operam a partir do Afeganistão”.

Antes daquilo, no dia 14, o governo paquistanês havia acusado o Taleban de fornecer abrigo a Masood Azhar, fundador e chefe do grupo extremista Jaish-e Mohammad (JEM). Trata-se de uma organização com sede no Paquistão que luta pela independência da Caxemira da Índia e que há 20 anos está banida pelo governo paquistanês, tendo realizado inúmeros ataques mortíferos nos últimos anos.

Além do JEM, Sharif citou outros grupos terroristas que marcam forte presença no Afeganistão, como o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), o TTP e a Al-Qaeda.

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