Apesar da recente ampliação da política de isenção de visto anunciada pela China para cidadãos de 38 países, tibetanos com passaportes estrangeiros continuam enfrentando dificuldades para entrar no país. Relatos de deportações, interrogatórios prolongados e detenções em aeroportos chineses revelam um padrão de tratamento diferenciado para essa comunidade. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
Nos últimos meses, tibetanos com cidadanias belga, sul-coreana e americana foram impedidos de prosseguir viagem após desembarcarem em aeroportos como os de Beijing, Xangai e Shenzhen. As razões alegadas pelas autoridades incluem supostos vínculos com o Dalai Lama e atividades de preservação da cultura tibetana, fatores que, segundo os relatos, motivam interrogatórios que podem durar mais de 18 horas e resultar em deportações sumárias.

Em um caso recente, uma cidadã belga de origem tibetana foi detida no aeroporto de Shenzhen e enviada de volta à Europa após ter seus pertences minuciosamente revistados. Outro cidadão belga foi interrogado por seis agentes diferentes, que o questionaram sobre sua história familiar e sobre a posse de itens considerados sensíveis, como fotos do Dalai Lama e a bandeira tibetana.
As autoridades chinesas justificam essas ações com base na legislação de imigração do país. O porta-voz da embaixada da China em Washington, Liu Pengyu, afirmou que “o governo chinês administra a entrada e saída de estrangeiros em conformidade com as leis e regulamentos vigentes”, negando qualquer prática discriminatória contra tibetanos. E acrescentou que “os tibetanos patrióticos são parte importante da comunidade chinesa no exterior” e que o governo “sempre demonstrou cuidado com sua situação”.
Por outro lado, os relatos de tibetanos afetados indicam que as medidas parecem seletivas. As autoridades frequentemente concentram suas perguntas em atividades relacionadas à preservação da cultura tibetana e em possíveis conexões com o movimento liderado pelo Dalai Lama, considerado por Beijing como uma ameaça à unidade nacional.
Por que isso importa?
A repressão chinesa no Tibete tem raízes históricas e remete a um conflito relacionado à soberania e à cultura. A ocupação chinesa em uma das regiões mais fechadas e politicamente sensíveis do país começou em 1950, quando as tropas do Exército de Libertação Popular (ELP) invadiram e assumiram o controle do território tibetano, em um episódio que Beijing chama de “libertação pacífica”.
Então, em 1959, os tibetanos se insurgiram contra o domínio chinês, mas a artilharia de Beijing esmagou a resistência, executou os guardas do líder espiritual e destruiu mosteiros de Lhasa. Diante do cenário de destruição, o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso fugiu para a Índia.
Desde então, a China impõe uma violenta repressão aos tibetanos, um processo escorado no desrespeito aos direitos humanos que inclui a supressão da identidade cultural e religiosa tibetana, restrições à liberdade de expressão e detenções arbitrárias.
A China implementou políticas de assimilação cultural, incluindo a transferência forçada de tibetanos para programas de formação profissional e internatos estatais. As ações são semelhantes às que têm sido denunciadas em Xinjiang contra os uigures. Essas políticas geraram preocupações internacionais e críticas de organizações de direitos humanos.