Um vídeo que viralizou recentemente trouxe à tona a agressão de um estudante tibetano por um professor em um internato na província chinesa de Qinghai, reacendendo o debate sobre a repressão cultural e as violações de direitos humanos sofridas pelos tibetanos em regiões administradas pela China. As informações são da Radio Free Asia (RFA).
O vídeo, divulgado pela ONG Tibet Action Institute em 16 de dezembro, mostra Dang Qingfu, diretor da Escola Primária Internato Étnico da Vila de Tsokhyil, controlada pelo governo chinês, e também secretário local do Partido Comunista Chinês (PCC), agredindo o estudante diante de colegas reunidos em uma quadra de esportes. As imagens, sem som, revelam Dang dando um tapa, empurrando e puxando a orelha da criança.

De acordo com o instituto, o incidente ocorreu em ou antes de 18 de novembro e foi inicialmente compartilhado com a associação de pais da escola antes de se espalhar online. No entanto, as autoridades locais logo proibiram os tibetanos de continuarem divulgando o vídeo, gerando suspeitas de tentativa de encobrimento.
Repressão cultural
Internatos como o de Tsokhyil são parte de um amplo sistema chinês que, segundo defensores dos direitos dos tibetanos, busca suprimir a cultura local. Nessas escolas, o ensino é exclusivamente em mandarim, e a língua tibetana é deixada de lado. O governo chinês justifica o modelo como uma forma de promover integração, mas críticos apontam para um projeto sistemático de erradicação cultural e imposição da chamada “educação patriótica”, que incentiva a lealdade à China e ao Partido Comunista.
“O caso do professor Dang Qingfu é apenas a ponta do iceberg”, afirma Gyal Lo, sociólogo educacional do Tibet Action Institute. “A violência física é apenas uma das muitas formas de abuso que essas crianças enfrentam. Há um esforço coordenado para destruir suas identidades culturais desde a infância.”
Content Warning: child abuse, colonial violence
— Students for a Free Tibet (@SFTHQ) December 16, 2024
The Chinese principal of a colonial boarding school in Tsokyil, Amdo, Tibet was caught on video kicking, striking, and screaming at a Tibetan child, Tibet Action Institute confirmed today. pic.twitter.com/xkon37i3sC
A agressão denunciada não é um caso isolado. Em setembro, a RFA relatou que cinco ex-monges tibetanos, obrigados a frequentar um internato estatal no condado de Zungchu, Sichuan, tentaram tirar a própria vida devido às condições de discriminação, agressões físicas e alimentação precária. Já em outubro, surgiram relatos de centenas de jovens monges transferidos à força de monastérios fechados para internatos em Ngaba, Sichuan, vivendo em “condições semelhantes às de uma prisão”.
Apesar das denúncias, autoridades locais raramente são responsabilizadas. “Os governos regionais frequentemente implementam políticas que violam até mesmo a constituição chinesa, mas não enfrentam qualquer tipo de punição”, explica Lo.
Apelo por justiça
Em resposta à divulgação do vídeo, a direção da escola informou que Dang Qingfu está sob investigação, mas ele permanece em sua posição. Para o Tibet Action Institute, isso é insuficiente. A organização exige sua remoção imediata e responsabilização criminal.
Grupos de defesa dos direitos humanos também pedem maior pressão internacional para frear o que consideram um genocídio cultural em andamento no Tibete. “O caso deste estudante é um lembrete sombrio de como a repressão do governo chinês afeta diretamente as crianças tibetanas”, conclui Lo.
Assimilação cultural
Beijing promove a assimilação cultural no Tibete por meio de várias estratégias. Uma abordagem-chave é a substituição gradual de termos e símbolos tibetanos por elementos da cultura chinesa. Isso inclui a mencionada promoção ativa do uso do termo “Xizang” em vez de “Tibete” em referências oficiais em inglês, como parte de uma tentativa de redefinir a identidade da região de acordo com a perspectiva chinesa.
Além disso, o governo chinês implementa políticas linguísticas que incentivam o uso do mandarim em detrimento do tibetano. Essas medidas visam suprimir a língua tibetana, que desempenha um papel crucial na preservação da identidade cultural.
Outra tática é o controle rígido sobre a educação, com ênfase na disseminação da narrativa oficial chinesa sobre a história e a cultura do Tibete. A imposição de internatos e a separação de crianças de suas famílias, conforme mencionado por Zenz, também são parte desse esforço para moldar a identidade das gerações mais jovens de acordo com a visão chinesa.
Essas políticas têm sido criticadas por organizações de direitos humanos e representantes do governo tibetano no exílio, que argumentam que tais medidas representam uma ameaça à preservação da cultura e identidade locais.