Autoridades da Mongólia Interior, uma região autônoma no norte da China, ordenaram que as escolas do ensino médio eliminem as lições de língua mongol e insiram o mandarim no currículo até setembro. Diante da iminência da remoção do idioma nativo das salas de aula, um grupo de direitos humanos acusa o governo chinês de promover um “genocídio cultural”, segundo a rede Radio Free Asia (RFA).
A medida é uma continuação de uma política anunciada por Beijing em agosto de 2020 para reduzir o ensino da língua mongol nas escolas como parte de um esforço de padronização do currículo escolar chinês. À época, milhares saíram às ruas para protestar.
A tentativa de padronização preocupa os mongóis. Há o receio de que o crescente domínio chinês na região se estabeleça em definitivo por meio das novas gerações que acessam a escola.
Durante reunião realizada no mês passado, autoridades regionais justificaram a medida argumentando que as escolas devem “construir a consciência nacional e a comunidade chinesa e aprofundar a educação na unidade nacional”.
Na terça-feira (11), o Centro de Direitos Humanos da Mongólia do Sul, com sede nos EUA, disse que lamenta a ordem das autoridades chinesas. O grupo disse ter obtido uma gravação de áudio de 52 minutos durante uma reunião de pais e professores em uma escola secundária em Hohhot, capital da província, na qual o diretor informa os pais sobre a decisão.
“Sob a diretiva do governo central, todas as escolas mongóis da região usarão a língua comum nacional [chinês mandarim] como língua de instrução a partir de 1º de setembro deste ano”, disse o diretor.
O grupo ainda alertou que, a partir de 2025, todos os estudantes de etnia mongol serão obrigados a fazer os exames de admissão à faculdade em chinês, em vez de mongol.
O Centro de Direitos Humanos da Mongólia do Sul alega que a proibição total da língua mongol no sul da região autônoma foi “bem planejada e sistemática”, sendo “o toque final do projeto de genocídio cultural de longa data da China”.
Em 2022, Enghebatu Togochog, diretor do grupo, testemunhou perante a Comissão Executiva do Congresso dos Estados Unidos sobre a China a respeito da repressão cultural coordenada por Beijing e a respectiva conversão de mongóis, uigures e tibetanos. Segundo ele, o objetivo é “eliminar a língua, a cultura e a identidade desses três povos e convertê-los à nacionalidade ‘chinesa'”.
Ele ainda acusou o governo chinês de promover uma série de violações de direitos, que incluem “genocídio, limpeza étnica, expurgo político, exploração econômica, erradicação cultural, assimilação linguística, marginalização social, extração de recursos e destruição ambiental” na região.
Ativistas de direitos humanos alertam que as iniciativas de “unidade nacional” promoveram casamentos forçados entre a maioria chinesa han e uigures e tibetanos, bem como outras medidas para eliminar a identidade étnica e a autonomia.
Políticas semelhantes vêm sendo adotadas em Xinjiang, província no extremo oeste da China. As comunidades uigures, povo de religião muçulmana e língua de origem túrquica, têm sofrido investidas sistemáticas de apagamento cultural.