A Coreia do Sul enfrenta uma crise política sem precedentes, marcada por protestos massivos e a suspensão dos poderes do presidente Yoon Suk-yeol, acusado de abuso de autoridade. No centro do turbilhão estão influenciadores conservadores do YouTube, que disseminam teorias de fraude eleitoral e consolidam o apoio ao presidente. A plataforma tornou-se uma ferramenta poderosa para alimentar a polarização, mobilizar manifestações e até justificar ações extremas, como a controversa declaração de lei marcial feita pela autoridade em dezembro. As informações são da agência Associated Press (AP).
Esses influenciadores desempenham um papel crucial ao moldarem a percepção pública sobre o governo e as instituições democráticas. Suas narrativas acusam a oposição de ser cúmplice de fraudes eleitorais e de conspirar para derrubar Yoon, retratado como um líder patriótico injustiçado. Durante os protestos, cartazes ecoavam slogans associados à extrema-direita dos EUA, como “Stop the Steal” (parem o roubo, em tradução literal), enquanto outros exigiam a dissolução do parlamento.

Yoon também parece ter se alinhado à retórica conspiratória. Em declarações públicas, o presidente repetiu alegações sem fundamento sobre fraudes nas eleições e vulnerabilidades no sistema da Comissão Eleitoral Nacional (CEN). “Há muitas evidências de fraude eleitoral em nosso país”, disse ele através da rede social Facebook, apesar de todas essas acusações terem sido refutadas por investigações oficiais e pela Justiça sul-coreana.
A situação se agravou com a declaração de lei marcial em 3 de dezembro, quando Yoon enviou tropas para cercar o parlamento e sedes da CEN, sob o pretexto de investigar supostas fraudes eleitorais. O ato, que evocou memórias de ditaduras militares, foi revertido após pressão de parlamentares e protestos públicos, mas resultou na prisão do ex-ministro da Defesa e no impeachment do presidente.
O risco das redes sociais
Jinman Cho, professor de política da Universidade de Mulheres Duksung, alerta para os perigos da desinformação amplificada por plataformas digitais. “Partidos estão usando teorias da conspiração não para atacar uns aos outros, mas para se destruir,” afirmou, prevendo que o caos político persistirá até que a Corte Constitucional decida o destino de Yoon.
Além disso, o uso do YouTube para mobilizar apoiadores de Yoon tem implicações profundas para o futuro da democracia sul-coreana. Han-Wool Jeong, diretor do Instituto de Pesquisa Popular da Coreia, teme que o crescente ceticismo em relação ao sistema eleitoral, fomentado por desinformação, enfraqueça futuras eleições e dificulte a aceitação de resultados.