Documentos obtidos pela agência Associated Press e divulgados nesta quarta (15) informam que a China escondeu de sua população por pelo menos seis dias o surto do novo coronavírus em Wuhan, epicentro da futura pandemia global.
O aviso à população só foi feito pelo presidente Xi Jinping em 20 de janeiro. Neste ínterim, mais de 3 mil pessoas foram infectadas, de acordo com os documentos analisados pela agência de notícias e estimativas de especialistas, que levaram em conta dados retrospectivos da trajetória de contaminação.
Naqueles seis dias, de 14 a 20 de janeiro, milhões já se deslocavam pelo país em antecipação ao ano novo lunar, importante feriado no país, e houve um banquete para dezenas de milhares em Wuhan.
Embora a China possa ter agido para conter o vírus sem avisar à população, o atraso de seis dias veio acompanhado de quase duas semanas na qual o Centro para Controle de Doenças do país não registrou casos informados pelas autoridades locais, segundo os boletins obtidos pela AP.

Mesmo assim, centenas de pacientes deram entrada em hospitais não apenas em Wuhan, mas em todo o país – resta saber se os centros de saúde locais não fizeram os registros ou se o governo central não os computou.
O que se sabe, afirmam os especialistas consultados pela Associated Press, é que a China chegou a punir oito médicos por “criar rumores”, com transmissão pela TV em todo o país. Os controles de informação do governo chinês, associados a questões burocráticas e aos temores de funcionários em nível médio de represálias ao enviar “notícias ruins” aos comandantes do Partido Comunista Chinês.
Quando a doença chegou na Tailândia, no dia 13 de janeiro, os burocratas do Partido Comunista tiveram de reconhecer a possibilidade de uma pandemia. Nesse momento, foram implementadas as primeiras medidas para identificar os contaminados – sem que o público fosse informado.
O governo chinês negou, por meio do porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, que tenha escondido a epidemia. Lijian classificou como “injustas” as acusações e afirmou que Beijing informou “imediatamente” a OMS (Organização Mundial da Saúde).
O informe mais recente da OMS, divulgado nesta quinta (16), reportou 1,991 milhão de casos em todo o mundo, e 130 mil mortes. Destes, 1 milhão estão na Europa e 707 mil nas Américas.