Ditadura fechada, Turcomenistão trabalha para esconder coronavírus

Nem nas cartilhas de saúde há menção à doença; imprensa ocidental relata surto de "pneumonia" em maio

Entre os países que têm se esforçado para negar a existência da pandemia do novo coronavírus, destaca-se o Turcomenistão, ditadura na Ásia Central onde o governo afirma não haver casos.

A política do governo turcomeno, classificado como “extremamente repressor” pela organização HRW (Human Rights Watch), é de esconder qualquer referência a problemas. Sejam eles acidentes, desastres naturais, crises econômicas e agora, a pandemia.

Segundo a norte-americana Radio Free Europe, cartilhas de prevenção ao vírus se referem à Covid-19 como “doença” ou “doença aguda respiratória”. A rádio relatou à HRW que houve no país, em maio, um surto de “pneumonia” em todo o país.

Ditadura fechada, Turcomenistão trabalha para esconder coronavírus
Ciclistas uniformizados e aglomerados desfilam “estilo de vida saudável” no Turcomenistão, em meio à pandemia (Foto: Governo do Turcomenistão)

Nos informes diários da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre a Covid-19, é como se o país não existisse. Os vizinhos Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão têm enviado dados de seus ministérios da Saúde sobre o número de casos e mortes.

Desde abril, o órgão tenta agendar uma visita ao país, ainda sem sucesso. Segundo a Parceria Internacional para os Direitos Humanos, o governo afirma que as políticas servem para “prevenir o pânico” na população. Médicos e enfermeiros têm sido silenciados.

Tática de negação

Não há política de contenção do vírus. Em vez disso, o governo tem mantido escolas abertas e promovido eventos com grandes aglomerações. Os campeonatos esportivos não foram paralisados.

Em abril, para celebrar o Dia Mundial da Saúde, o presidente Gurbanguly Berdymukhammedov organizou passeios de bicicleta que reuniram dez mil em todo o país. A meta era “demonstrar o compromisso com um estilo de vida saudável”.

As únicas medidas foram limitações na entrada de estrangeiros e campanhas de conscientização sobre higiene pessoal.

Segundo a Radio Free Europe, a capital Ashgabat foi fechada em 20 de março sem que a população fosse comunicada. Também foram instalados postos de controle nas estradas.

Também de acordo com o veículo norte-americano, pessoas que falavam sobre a pandemia em público eram “rapidamente removidas por agentes à paisana”.

Em junho, a embaixada dos EUA no país afirmou que “embora não existam casos confirmados oficialmente, recebemos relatos de cidadãos com sintomas consistentes com Covid-19”. A resposta do governo foi negar a informação, afirmando que tratava-se de “distorção”, “sem base” e “falsa”.

A embaixada informou que “cidadãos que sejam testados no Turcomenistão podem ser enviados para uma quarentena involuntária em um local selecionado pelo governo”.

A recomendação é que os americanos recusem qualquer procedimento que não seja “de rotina, não invasivo ou de averiguação de temperatura”.

Ditadura personalista

O Turcomenistão é um dos países mais fechados do mundo. O presidente Gurbanguly Berdymukhammedov chegou ao poder em 2007. Era vice de seu antecessor, Saparmurat Niyazov, morto em 2006.

Niyazov era conhecido pela alcunha de Turkmenbashi, ou “pai dos turcomenos”. Fez carreira como burocrata do Partido Comunista soviético e chegou ao cargo mais alto do Executivo do país em 1985.

Em 1999, Niyazov foi agraciado pelo Parlamento com o título de “presidente vitalício” após uma “eleição” com candidatos escolhidos pelo presidente e sem opositores.

O país dispõe da quarta maior reserva de gás natural do mundo. Entre 1993 e 2017, o governo subsidiava a totalidade das contas de água, energia elétrica e gás da população, explicou o jornal turco “Hurriyet“.

O benefício terminou depois que a Rússia diminuiu suas compras de gás do país, o que derrubou a receita local.

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