Ivan Pavlov, ex-diretor da FBK (Fundação Anticorrupção) de Alexei Navalny e advogado de direitos humanos da equipe do principal crítico do Kremlin, anunciou que fugiu da Rússia. Nesta quinta-feira (9), em entrevista à agência Reuters, ele endereçou críticas às autoridades do país, a quem acusa de comandarem uma campanha para eliminar do cenário político opositores indesejáveis.
Pavlov, de 50 anos, ficou conhecido por abraçar casos de motivação política e pela defesa de acusados por traição ou espionagem pelo FSB (Agência de Segurança Federal da Rússia, da sigla em inglês), órgão sucessor da KGB soviética.
O advogado revelou que buscou refúgio na vizinha Geórgia, alegando que sua vida profissional tornou-se impraticável por conta de uma investigação criminal contra ele, além de uma série de restrições impostas e da pressão do governo russo contra uma ONG fundada pelo jurista, a Komanda 29.
Pavlov soma-se a outros partidários de Navalny que deixaram o país natal em consequência da repressão do Estado, entre eles Kira Yarmysh, porta-voz do político que foi para a Finlândia, e a condenada a prisão domiciliar Lyubov Sobol, importante aliada do oposicionista que reapareceu após especulações sobre sua fuga.
A Rússia está a poucos dias das eleições, nas quais votará em 19 de setembro para escolher os membros da câmara baixa do parlamento russo, a Duma. Serão eleitos 39 parlamentares e nove governadores regionais. Como repressão, o Roskomnadzor, órgão regulador da internet e dos meios de comunicação, tem perseguido partidários de Navalny e veículos rotulados como “agente estrangeiro”.
“Está em andamento uma tentativa de purgar o espaço de pessoas politicamente indesejáveis”, disse Pavlov à Reuters direto de Tbilisi, capital da Geórgia.
“Rio violento”
Pavlov disse que o fluxo de pessoas deixando a Rússia está crescendo. “Este riacho, que até recentemente parecia um riacho, agora parece um violento rio de montanha. As pessoas não estão saindo uma por uma, mas equipes inteiras estão saindo, meios de comunicação inteiros”, alertou o advogado.
O Kremlin nega que seus oponentes ou a imprensa independente sejam alvos por motivações políticas, e alega que “qualquer ação criminal contra indivíduos é o resultado de eles infringirem a lei”.
Pavlov foi investigado criminalmente em abril, acusado de divulgar informações confidenciais em defesa do ex-jornalista Ivan Safronov, que está detido por traição, fato negado por ele. Depois, o advogado foi detido no início de maio, quando oficiais realizaram uma busca em seus escritórios e residências. No mesmo mês, a rede de Navalny foi incluída à lista de ‘extremistas’.
O advogado ainda declarou à reportagem que não considerava ser alvo por causa de seu trabalho para Navalny, mas devido aos seus anos de disputas jurídicas com o FSB. Ele negou ser um crítico do Kremlin e disse que seu papel havia sido estritamente profissional.
A ONG Komanda 29 (Equipe 29, em tradução literal), formada por advogados e jornalistas defensores dos direitos humanos, teve seu site bloqueado pelas autoridades acusada de circular conteúdo proibido. Ela anunciou que estava fechando em julho.
“Depois disso, percebemos que eles não nos deixariam trabalhar e que este pode ser o último sinal de que precisamos deixar o país”, disse ele.
Por que isso importa?
Alexei Navalny é o principal crítico do governo Putin. Ele está preso desde janeiro, quando retornou da Alemanha após cinco meses de recuperação médica.
Em fevereiro, um tribunal o condenou a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente no período em que estava em coma pela dose tóxica.