O coronavírus gerou um choque triplo, de demanda, de confiança e de oferta, o que faz da crise atual um evento econômico distinto dos outros. A análise é do economista Homi Kharas, vice-presidente do think tank norte-americano Brookings Institution.
Em geral, momentos econômicos desfavoráveis incluem apenas um desses três problemas. “Todos estão acontecendo ao mesmo tempo. É uma tempestade perfeita”, afirmou Kharas, em conversa com a IFC (Corporação Financeira Internacional).
A solução para a crise está em uma resposta coordenada dos países, afirma. Isso significa elaborar políticas de estímulo simultâneas para resgatar a economia, por exemplo, maximizando o impacto destas no médio prazo.
Para Kharas, também é importante aproveitar o consenso global em torno da necessidade de recuperação econômica e criar rápido esses estímulos nas diferentes regiões.
“Temos algo como US$ 8 trilhões em estímulos postos em pauta por governos do G20. É mais de 10% do PIB [destes países]. Nem tudo será gasto instantaneamente, mas dá uma ideia do tamanho da resposta que está ocorrendo”, afirma.
Setor privado
O desafio das empresas no momento é superar a crise enquanto troca as peças pouco eficientes do atual modelo econômico. “Construir de volta, melhor” é a definição do economista.
O exemplo de Kharas é o setor financeiro pós-crise de 2008. Mesmo após mudanças regulatórias, diz, sua estrutura setorial permaneceu muito parecida.
“Desta vez, ajudaria muito se aprendêssemos a lição de que nossas estruturas econômicas globais não são tão fortes assim. Elas precisam ser mudadas”, diz.
Na visão de Khadras, ao setor privado caberá criar produtos inovadores e mais adequados às necessidades do público no pós-pandemia.
A sustentabilidade será uma dessas demandas. “Todos têm falado da alegria de poder respirar ar puro ou ver as estrelas agora. Espero que, mais adiante, reconheçamos que essas são coisas valiosas e não só um preço baixo a pagar em nome de conforto material”, diz.
Também será fundamental investir em inclusão, sobretudo depois das dificuldades no auxílio à população durante o isolamento social. “É claro que os países que têm redes de segurança [social, para a população] estão muito mais bem posicionados para lidar com a atual crise”.