Denúncias desmentem ‘zero casos’ de Covid-19 no Turcomenistão

Ditadura na Ásia Central é o único país no mundo que ainda diz não ter registro de nenhum caso do novo coronavírus

Apesar de o governo do Turcomenistão negar a existência da Covid-19 no país, denúncias apontam que a pandemia já atinge até altos funcionários diplomáticos da antiga nação soviética, de acordo com a Radio Free Europe.

Ao menos um diplomata morreu e outro permanece em tratamento contra as sequelas deixadas pelo vírus. A viúva do turco Kemal Uchkun, Guzide, relata que o marido morreu em um hospital turcomeno ainda no início de julho.

Por ser estrangeiro, o caso foi noticiado fora do país – uma das ditaduras mais fechadas e idiossincráticas do mundo.

Guzide processou o embaixador da Turquia no país, Togan Oral, por omissão de socorro ao funcionário. Uchkun trabalhava na embaixada desde 2018 como conselheiro de assuntos religiosos.

Denúncias desmentem inexistência de Covid-19 no Turcomenistão
Mulheres na capital do Turcomenistão, Ashgabat, em setembro de 2008 (Foto: CreativeCommon)

Conforme Guzide, os médicos diagnosticaram seu marido com pneumonia bacteriana – apesar dos sintomas idênticos à Covid-19. O diplomata recebeu antibióticos, que não funcionam contra vírus.

Já o embaixador da Grã-Bretanha no Turcomenistão, Hugh Philpott, afirmou que se recuperava do vírus em 16 de dezembro. Apesar de não afirmar sua localização no território turcomeno, Philpott disse que estava no país desde o final de setembro.

Ao mesmo tempo em que nega a existência de casos, o país da Ásia Central proibiu voos internacionais desde março de 2020. Ao obrigar o uso de máscaras, o governo afirmou se tratar de “proteção contra a poeira”.

Em abril, o presidente Gurbanguly Berdymukhammedov proibiu o uso da palavra “coronavírus”. Nem a população, nem as publicações oficiais e da mídia estatal poderiam usar o termo.

OMS amordaçada

Apesar de o Turcomenistão protelar a visita oficial de funcionários da OMS (Organização Mundial da Saúde) por dois meses, a entidade também não foi autorizada a confirmar casos de Covid-19 no país.

Fontes disseram à RFE que a equipe do órgão recebeu orientações de que não haveria nenhuma evidência do vírus no país. A agência, porém, registrou relatos de “aumento de casos de doença respiratória aguda ou pneumonia de causa desconhecida”.

A OMS também aconselhou a ativação das medidas críticas de saúde pública, “como se a Covid-19 estivesse circulando”, segundo um documento publicado em 15 de julho.

O Turcomenistão é um dos países mais fechados do mundo. No poder desde 2007, Berdymukhammedov controla as reservas de gás natural do país e suprime qualquer tentativa de liberdade de imprensa ou mesmo de contato com o exterior.

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