Abiy Ahmed minimiza fome na região de Tigré, excluída das eleições na Etiópia

Resultados da votação adiada duas vezes devem ser divulgados até o dia 30; partido do premiê Abiy Ahmed é favorito

Cidadãos da Etiópia formaram longas filas para votar na eleição desta segunda (21) em boa parte do país. A votação, adiada duas vezes, excluiu o Estado de Tigré, ao contrário das regiões de Harar e Somali, que devem ir às urnas em setembro.

Tigré está imersa em conflitos desde novembro, quando disputas eleitorais fizeram com que Addis Abeba determinasse a tomada das instituições locais. Cercada por forças etíopes e da antiga rival Eritreia, a região enfrenta uma campanha que gera fome e violência e já deteriorou as condições de vida de cinco milhões de civis.

Abiy Ahmed – o mais cotado para reeleição como primeiro-ministro –, porém, rejeitou os relatos de fome na região. Em entrevista à BBC, nesta segunda-feira, o político reconhecido com o Nobel da Paz em 2019 insistiu que o Estado enfrenta um “problema” e que o governo “é capaz de consertá-lo”.

Em eleição adiada, Etiópia exclui Tigré enquanto Abiy Ahmed rejeita 'fome' na região em conflito
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, em Addis Abeba, maio de 2018 (Foto: Divulgação/Flickr/Paul Kagame)

A afirmação responde ao alerta do chefe humanitário da ONU (Organização das Nações Unidas) Mark Lowcock sobre a disseminação da fome como arma de guerra contra mais de 350 mil civis na região. As informações têm base no índice IPC (Classificação Integrada de Segurança Alimentar, na sigla em inglês).

Com a eleição, a Etiópia espera escolher os representantes dos 547 assentos parlamentares. Cerca de 42 mil seções de votos receberam 37 milhões de eleitores cadastrados durante o dia. O prazo para divulgação dos resultados vai até o dia 30. O governo cancelou a escolha em 102 distritos ao alegar “insegurança e desafios logísticos”.

Favorito

Com o maior número de candidatos, o Partido da Prosperidade, liderado por Ahmed, é o favorito para conquistar a maioria do Parlamento. O primeiro-ministro subiu ao poder em 2018, após defender o renascimento democrático após décadas de guerra contra a Eritreia.

O Nobel da Paz libertou presos políticos e recebeu exilados, mas não conseguiu evitar que um conflito irrompesse em Tigré – província com histórico separatista. Na cúpula dos dias 12 e 13, o G-7 instou o cessar-fogo e a retirada imediata das forças da Eritreia da região.

Ao mesmo tempo, a UE (União Europeia) congelou US$ 107 milhões em apoio financeiro à Etiópia, e os EUA emitiram restrições de visto contra altos funcionários do país africano. O pacote de ajuda de US$ 1 bilhão via Usaid também está suspenso.

A porta-voz de Ahmed, Billene Seyoum, classificou a “ofensiva” da imprensa internacional contra o primeiro-ministro como um “assassinato de caráter”. “Ele só está fazendo o que é certo para o país”, disse, em registro da emissora VOA (Voice of America).

Tags: