Vitória no Parlamento pavimenta poder de Bukele em El Salvador

Popular, presidente agora teria maioria inédita no Congresso e pode aprovar reformas para permanecer no cargo

As eleições parlamentares de domingo (28) em El Salvador ampliam o espaço para a concentração de poder nas mãos do presidente, Nayib Bukele. Candidatos do partido governista Nuevas Ideias haviam conquistado 56 dos 84 assentos, segundo dados compilados até às 10h30 desta terça-feira (2), no horário de Brasília.

Com as cinco cadeiras do partido GANA, fiel a Bukele, o governo soma 61 parlamentares aliados, aponta levantamento do Tribunal Superior Eleitoral salvadorenho, que deve entregar os resultados finais nesta terça (2).

A vitória é a maior desde a implantação da democracia no país, em 1992. Nunca um partido conquistou tantos deputados – o número mais alto foi da Arena, quando elegeu 39 parlamentares em 1994. Em 2019, o recém-criado Nuevas Ideias conquistou apenas 11 assentos do Parlamento.

Vitória massiva de aliados pavimenta poder absoluto de Bukele em El Salvador
O presidente Nayib Bukele em San Salvador, El Salvador, janeiro de 2016 (Foto: Divulgação/Presidencia de El Salvador)

A maioria absoluta garante a Bukele não depender do voto da oposição e possibilita a nomeação de membros leais em posições-chave no gabinete do procurador-geral, da Suprema Corte e da Controladoria de Contas, observou o jornal espanhol “El País”.

O aumento do controle e perseguição às instituições democráticas do país, porém, preocupa grupos de direitos humanos. Aos 39 anos, Bukele domina as Forças Armadas e mobiliza a população em torno de uma pauta “anticorrupção”, sua principal bandeira eleitoral.

Em uma pesquisa do Instituto Gallup, 96% dos entrevistados consideraram a sua gestão como “boa ou muito boa”. “As pessoas não votam em partidos, mas em Nayib Bukele”, disse Manuel Escalante, advogado da Universidade da América Central, ao diário norte-americano “The Washington Post”.

Não à “política tradicional”

O triunfo de Bukele também representa a baixa na popularidade dos partidos tradicionais do país, como a FMLN (Frente Farabundo Martí), de esquerda, e a Arena (Aliança Nacional Republicana), de direita.

Dominantes desde o fim da guerra civil de 12 anos, encerrada em 1992, as siglas já reconhecem necessidade de renovação em seus quadros. Ao portal El Salvador, a diretoria da FMLN afirmou que realizará uma “reforma profunda” após a derrota.

Opositores receiam, agora, que a reforma constitucional em andamento termine com uma Assembleia Constituinte que garanta uma reeleição a Bukele. Pela lei atual, o presidente tem direito a um mandato de cinco anos.

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