Assédio à imprensa volta à rotina em El Salvador após denúncias contra presidente

Onda de ataques vai na contramão da expectativa de renovação ao governo de Nayib Bukele em El Salvador

Com uma candidatura construía em suposta “renovação”, o presidente do país centro-americano de El Salvador, Nayib Bukele, é cada vez mais parecido com antecessores autoritários que marcaram a história do país.

Bukele, 39, aumentou o cerco contra jornalistas, em especial do portal independente El Faro. O veículo investigativo denunciou, no último dia 3 de setembro, a negociação do presidente com a gangue MS-13 (Mara Salvatrucha 13), que domina parcela considerável do território.

No dia 25 de setembro, Bukele usou a rede nacional de rádio e televisão para atacar novamente os meios de comunicação independentes do país.

O presidente afirma que o El Faro é comandado por “lavadores de dinheiro, narcotraficantes e sonegadores de impostos”. Bukele exigiu “investigação” contra o veículo.

Perseguição à imprensa revela semelhança entre Bukele e antigos autoritários
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ao receber o bastão das Forças Armadas em junho de 2019 (Foto: Presidencia/El Salvador)

As acusações, sem provas, apresentam um padrão de intimidação, disse a coordenadora do CPJ (Comitê de Proteção a Jornalistas) na América Latina, Natalie Southwick.

“Todos os governos têm poder de realizar auditorias. Mas quando um presidente anuncia investigações questionáveis e está sempre atacando a mesma mídia, há todos os motivos para se preocupar”, afirmou à BBC.

Apoio volátil

Em 2018, quando o governo de esquerda da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) foi alvo de reportagens investigativas do El Faro, Bukele aplaudiu o trabalho e criticou as três auditorias simultâneas instauradas pelo governo para intimidar os jornalistas.

“Mas isso mudou no mesmo em que ele ganhou as eleições”, disse o diretor de El Faro, José Luis Sanz. Desde a sua vitória, em fevereiro de 2019, Bukele passou a assediar os jornalistas que considera críticos com frequência.

Profissionais da imprensa denunciaram mais de 60 ataques promovidos pelo governo durante o primeiro ano de mandato de Bukele.

A imprensa de El Salvador já desconfiava de que haveria o uso de métodos autoritários por parte do presidente – mas a intensidade dos ataques é maior que a julgada.

“Uma das coisas que deixa Nayib Bukele mais nervoso é que constantemente o lembramos da corrupção, o abuso de poder, a falta de compromisso com a memória histórica [da Guerra Civil de El Salvador, de 1980 a 1992] e o relacionamento com as gangues“, diz Sanz. “Tudo que ele está repetindo de governos anteriores desde o início do mandato.”

O governo de Bukele não respondeu aos pedidos de entrevista.

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