Com uma candidatura construía em suposta “renovação”, o presidente do país centro-americano de El Salvador, Nayib Bukele, é cada vez mais parecido com antecessores autoritários que marcaram a história do país.
Bukele, 39, aumentou o cerco contra jornalistas, em especial do portal independente El Faro. O veículo investigativo denunciou, no último dia 3 de setembro, a negociação do presidente com a gangue MS-13 (Mara Salvatrucha 13), que domina parcela considerável do território.
No dia 25 de setembro, Bukele usou a rede nacional de rádio e televisão para atacar novamente os meios de comunicação independentes do país.
O presidente afirma que o El Faro é comandado por “lavadores de dinheiro, narcotraficantes e sonegadores de impostos”. Bukele exigiu “investigação” contra o veículo.
As acusações, sem provas, apresentam um padrão de intimidação, disse a coordenadora do CPJ (Comitê de Proteção a Jornalistas) na América Latina, Natalie Southwick.
“Todos os governos têm poder de realizar auditorias. Mas quando um presidente anuncia investigações questionáveis e está sempre atacando a mesma mídia, há todos os motivos para se preocupar”, afirmou à BBC.
Apoio volátil
Em 2018, quando o governo de esquerda da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) foi alvo de reportagens investigativas do El Faro, Bukele aplaudiu o trabalho e criticou as três auditorias simultâneas instauradas pelo governo para intimidar os jornalistas.
“Mas isso mudou no mesmo em que ele ganhou as eleições”, disse o diretor de El Faro, José Luis Sanz. Desde a sua vitória, em fevereiro de 2019, Bukele passou a assediar os jornalistas que considera críticos com frequência.
Profissionais da imprensa denunciaram mais de 60 ataques promovidos pelo governo durante o primeiro ano de mandato de Bukele.
A imprensa de El Salvador já desconfiava de que haveria o uso de métodos autoritários por parte do presidente – mas a intensidade dos ataques é maior que a julgada.
“Uma das coisas que deixa Nayib Bukele mais nervoso é que constantemente o lembramos da corrupção, o abuso de poder, a falta de compromisso com a memória histórica [da Guerra Civil de El Salvador, de 1980 a 1992] e o relacionamento com as gangues“, diz Sanz. “Tudo que ele está repetindo de governos anteriores desde o início do mandato.”
O governo de Bukele não respondeu aos pedidos de entrevista.