Biden não pretende devolver armas nucleares à Ucrânia, diz autoridade norte-americana

Jake Sullivan afirmou que o país não considera devolver armas nucleares para a Ucrânia, mesmo diante das pressões do cenário atual.

O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, descartou as sugestões feitas por alguns oficiais ocidentais para que o presidente Joe Biden oferecesse armas nucleares à Ucrânia antes de deixar o cargo. Ele falou em entrevista à emissora ABC News, com informações reproduzidas pela revista Newsweek.

“Isso não está sob consideração, não. O que estamos fazendo é aumentar as capacidades convencionais na Ucrânia para que eles possam se defender de forma eficaz e enfrentar os russos, não armas nucleares”, declarou Sullivan.

Na semana passada, a Rússia reagiu à possibilidade, chamando a ideia de “insanidade absoluta” e reiterando que um dos motivos para a invasão da Ucrânia foi justamente prevenir esse tipo de cenário.

Kiev herdou armas nucleares da União Soviética após seu colapso em 1991, mas as entregou de volta a Moscou em 1994, com base no Memorando de Budapeste, em troca de garantias de segurança dadas por Estados Unidos, Rússia e Reino Unido.

Conselheiro de Segurança Nacional do presidente Biden, Jake Sullivan (Foto: Brookings Institution/Flickr)

Com apenas algumas semanas restantes no governo Biden, a administração norte-americana tem se concentrado em enviar mais armas convencionais e em perdoar bilhões de dólares em empréstimos concedidos à Ucrânia, que se prepara para o terceiro inverno em meio ao conflito.

No dia 19 de novembro, a agência Associated Press (AP) relatou que o país enviará ao menos US$ 275 milhões em novas armas para a Ucrânia. No dia seguinte, um porta-voz do Departamento de Estado confirmou que a administração também tomou medidas para perdoar cerca de US$ 4,7 bilhões em empréstimos.

Jake Sullivan enfatizou que o foco é fornecer suporte militar convencional à Ucrânia, sem incluir armamento nuclear. A declaração acontece em um momento crucial, com a aproximação do fim do mandato do presidente Biden e a entrada de Donald Trump na Casa Branca. O presidente eleito criticou reiteradamente a ajuda bilionária destinada à Ucrânia e sugeriu que, se estivesse na mesa de negociação com os líderes russo e ucraniano, a guerra poderia terminar “em 24 horas”.

O Memorando de Budapeste, de 1994, confirmou a soberania e a segurança da Ucrânia em troca da entrega de suas armas nucleares herdadas do colapso da União Soviética. Na época, o país possuía o terceiro maior arsenal nuclear do mundo. A Rússia, que herdou as ogivas nucleares soviéticas, possui atualmente o maior estoque de armas nucleares do planeta, segundo um relatório do Boletim dos Cientistas Atômicos de março de 2024.

Rússia: economia de guerra

Diante do cenário tenso e do avanço da guerra, o presidente russo Vladimir Putin atualizou a doutrina nuclear do país, permitindo uma resposta nuclear a ataques convencionais por países que recebam apoio de potências nucleares. Ele ainda aprovou um aumento recorde nos gastos militares para o próximo ano, segundo a rede Radio Free Europe (RFE).

A aprovação do novo orçamento plurianual destina uma parcela recorde para gastos militares em 2025. O orçamento prevê 35,5% da verba para a defesa nacional, um aumento em relação aos 28,3% reportados neste ano. Ao todo, 13,5 trilhões de rublos (RS$ 771 bilhões) serão destinados ao setor, o maior nível desde a Guerra Fria.

Embora o governo apresente o orçamento como “equilibrado”, o aumento dos gastos militares tem impactado a economia russa. A elevação dos salários e benefícios de soldados voluntários tem causado escassez de mão de obra em diversas indústrias, impulsionando os preços e os salários. A taxa de desemprego caiu para 2,4%, enquanto os preços de alimentos básicos, como batatas e manteiga, dispararam.

O Banco Central, por sua vez, aumentou as taxas de juros para tentar esfriar a economia, resultando em uma queda nas transações imobiliárias e em preocupações com falências no setor empresarial.

O orçamento aprovado também destina cerca de um terço das despesas a categorias que não estarão sujeitas ao escrutínio público, diferentemente de orçamentos anteriores. Essa decisão e o aumento expressivo dos gastos militares indicam a determinação de Moscou em manter os recursos destinados à guerra, que já dura mais de 32 meses, tornando-se o maior conflito terrestre da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

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