Fala de Macron sobre tropas na Ucrânia ainda repercute e acirra rivalidade França x Rússia

Presidente não recuou e disse em mais de uma ocasião que a possibilidade é real de que tropas ocidentais lutem na guerra

No final de fevereiro, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que a presença de tropas da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Ucrânianão pode ser descartada“. Mesmo diante da cautela de seus aliados, o francês não recuou e chegou a repetir a afirmação posteriormente. Desde então, as palavras dele têm sido bastante exploradas pela máquina de propaganda da Rússia, que as usa para vilanizar o Ocidente e aquecer a opinião pública local, acirrando a rivalidade entre Moscou e Paris.

A campanha de desinformação russa não se limita aos habituais porta-vozes extraoficiais do presidente Vladimir Putin, como o ex-presidente Dmitry Medvedev e jornalistas pró-Kremlin que frequentemente usam seus veículos de comunicação para lançar ameaças. O governo russo também entrou na jogada, sem fazer qualquer esforço para maquiar suas ações.

Macron em evento das Forças Armadas da França, junho de 2019 (Foto: elysee.fr)

O SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro) publicou um comunicado na terça-feira (19) afirmando que muitos franceses foram mortos na guerra da Ucrânia, embora estivessem atuando extraoficialmente no “teatro de operações ucraniano”, como diz o texto. A situação, ainda segundo a agência de segurança, teria gerado insatisfação generalizada na França, forçando Paris a preparar o envio oficial de tropas.

“Segundo informações recebidas pelo Serviço de Inteligência Estrangeiro russo, um contingente já está sendo preparado para ser enviado à Ucrânia. Na fase inicial serão cerca de duas mil pessoas”, afirma o SVR no comunicado.

No texto, a agência ainda projetou o fracasso da operação. “Os militares franceses temem que uma unidade militar tão significativa não possa ser transferida e estacionada na Ucrânia sem ser notada. Assim, se tornará alvo legítimo prioritário para ataques das Forças Armadas russas.” E concluiu: “A espada aguarda todos os franceses que entrarem no território do mundo russo.”

A manifestação do SVR, claro, repercutiu com o barulho habitual na mídia russa, controlada pelo Kremlin. Ekaterina Shugaeva, apresentadora de um canal estatal, enviou um recado ao governo pedindo uma resposta dura: “Isso não tem mais graça. Façam alguma coisa, por favor”, disse ela, segundo a revista Newsweek, acrescentando que a fala do líder francês deve ser “levada a sério”.

Quem não recebeu nada bem a “informação” foi o Ministério da Defesa da França. “A manobra orquestrada por Sergei Naryshkin, diretor da Inteligência Estrangeira Russa, ilustra mais uma vez o uso sistemático da desinformação pela Rússia”, disse a pasta em comunicado, segundo a agência Reuters. “Consideramos irresponsável esse tipo de provocação”.

A guerra de palavras evidencia a tensão crescente entre Paris e Moscou. Conforme os EUA e a União Europeia (UE) enfrentam dificuldade para aprovar novos pacotes de ajuda militar a Kiev, a França parece assumir um papel de liderança nesse sentido, tornando-se alvo preferencial da propaganda russa.

E Macron não dá sinais de que recuará, inclusive tendo reforçado suas declarações. Em entrevista ao jornal Le Parisien, publicada no sábado (16), ele disse que “nosso dever é nos preparar para todos os cenários.” E acrescentou: “Talvez em algum momento – não quero, não tomarei a iniciativa – teremos que ter operações no terreno, sejam elas quais forem, para combater as forças russas.”

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