Mais de 50 diplomatas russos serão expulsos dos Estados Unidos em janeiro

Decisão é mais um capítulo da crise entre os dois países, que tem levado a uma redução drástica e recíproca dos corpos diplomáticos

Washington planeja expulsar ao menos 54 diplomatas russos dos Estados Unidos no início de 2022. A informação foi revelada pelo embaixador russo no domingo (28), em meio a uma crise diplomática que gerou considerável redução dos corpos diplomáticos dos dois países. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

De acordo com o embaixador russo Anatoly Antonov, 27 diplomatas estão programados para deixar os EUA até 30 de janeiro, e outros 27 têm previsão de saída a partir em 30 de junho. “Estamos enfrentando uma séria escassez de pessoal”, disse ele.

Mais de 100 diplomatas russos, junto de seus familiares, foram expulsos por Washington desde 2016, quando surgiram acusações de interferência da Rússia nas eleições presidenciais norte-americanas.

Prédio da embaixada da Rússia em Washington, nos EUA: 54 diplomatas deixarão o local em 2022 (Foto: Wikimedia Commons)

Reciprocidade

O problema de escassez de pessoal é recíproco. Em outubro, Washington levantou a possibilidade de interromper a maioria dos procedimentos realizados na embaixada do país em Moscou devido à equipe pequena, após a redução drástica do número de vistos diplomáticos concedidos aos norte-americanos.

atuação diplomática dos EUA na Rússia havia sofrido um baque anterior em agosto, quando Moscou proibiu as embaixadas no país de contratarem cidadãos russos ou de países terceiros. Assim, o governo norte-americano foi obrigado a demitir cerca de 200 cidadãos locais que empregava em suas missões diplomáticas russas.

Segundo Washington, falta reciprocidade na relação diplomática entre os dois países. Isso porque a Rússia considera cidadãos locais ao calcular o número de pessoas autorizadas a trabalhar nas missões, enquanto os EUA incluem na matemática apenas os cidadãos russos.

A diplomacia norte-americana já chegou a contar com 1,2 mil pessoas em atuação na Rússia, e hoje tem por volta de 120. Os russos têm 230 em solo norte-americano, segundo Washington.

Embaixada dos EUA em Moscou: serviços suspensos por falta de pessoal (Foto: Wikimedia Commons)

Por que isso importa?

A tensão entre EUA e Rússia não se limita ao corpo diplomático. O desacerto é especialmente relevante em assuntos militares e de segurança digital. Um dos focos de atrito é a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, bem como a suposta presença de militares e mercenários russos no conflito de Donbass, no leste da Ucrânia.

Em março de 2014, as autoridades da Crimeia realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia, que teve aprovação superior a 90%. Após o referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo, adotando o rublo como moeda e mudando o código dos telefones.

A anexação é reprovada especialmente pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e apenas nove países tratam a Crimeia como parte da Rússia: Zimbábue, Venezuela, Síria, Nicarágua, Sudão, Belarus, Armênia, Coreia do Norte e Bolívia. Para a comunidade internacional, trata-se de um território ucraniano sob ocupação russa.

O governo russo também é acusado de apoiar os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. A situação levou a uma aproximação entre Kiev e Washington, contestada por Moscou e que ajudou a intensificar a tensão entre as duas superpotências.

O conflito armado no leste, que já matou mais de 13 mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que juntas compõem a região de Donbass e têm suporte militar russo. Entre as demandas dos grupos pró-Moscou estão maior autonomia das duas repúblicas autoinstituídas, de maioria étnica russa.

Outro foco de atrito entre norte-americanos e russos é a segurança cibernética. Washington e seus aliados acusam Moscou de patrocinar grupos hackers responsáveis por ciberataques contra governos e empresas ocidentais, bem como de semear desinformação online para abalar democracias e direcionar resultados eleitorais.

Em julho, o presidente norte-americano Joe Biden chegou a cobrar explicitamente uma ação de Moscou durante conversa telefônica com o líder russo Vladimir Putin. A conversa, porém, não surtiu efeito, e os casos de ações digitais maliciosas realizadas por grupos de hackers ligados ao Kremlin tem aumentado.

Mais recentemente, a Rússia foi excluída de uma reunião virtual de combate a crimes digitais organizada pelos Estados Unidos. Trinta países foram convidados para o evento, e Moscou ficou de fora. Na pauta, tópicos como uso de criptomoedas no pagamento de resgates virtuais e a legislação global de combate a ações do tipo ransomware.

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