Os carros chineses, que conquistaram 63% do mercado russo no ano passado após sanções ocidentais decorrentes da guerra da Ucrânia, enfrentam agora um revés inesperado. Em janeiro, o governo russo aumentou para 667 mil rublos (R$ 45,5 mil) a chamada “taxa de reciclagem”, tarifa aplicada aos veículos importados. O valor é mais que o dobro do praticado no último trimestre de 2023 e deverá subir anualmente entre 10% e 20% até 2030. As informações são do jornal Financial Times.
Essa mudança vem após um período de boom nas vendas chinesas para a Rússia, repetindo cenário identificado em países como o Brasil, onde os carros de luxo provenientes da China também viram suas vendas dispararem.
Segundo a Associação de Carros de Passageiros da China (CPCA, na sigla em inglês), os russos compraram mais de um milhão de veículos chineses no ano passado, representando sete vezes o volume importado em 2022. Com essa expansão, marcas tradicionais da Rússia ficaram em segundo plano, detendo apenas 29% do mercado nacional.

Para o analista Gregor Sebastian, do Rhodium Group, o objetivo da Rússia é claro: estimular que as empresas chinesas aumentem a produção local. “Por um tempo, eles sentiram que não tinham escolha, mas agora perceberam que têm poder de negociação — afinal, a Rússia é um mercado significativo para essas montadoras.”
Mas o cenário pode ser alterado, e a preocupação em Beijing não se resume à tarifação. A perspectiva de que a guerra seja encerrada também assombra os chineses, que temem a reabertura do mercado russo para produtos ocidentais. Por ora, o que mais preocupa é a possibilidade de sanções pelo fato de as montadoras negociarem com os russos.
Fabricantes como a Chery já reconhecem que precisam rever suas estratégias. Em documentos para um possível IPO em Hong Kong, a empresa admitiu que planeja reduzir as vendas na Rússia para diminuir o risco de novas sanções internacionais.
Em meio às novas restrições tarifárias, comerciantes chineses já buscam alternativas. “Estamos vendendo diretamente aos motoristas russos para evitar as taxas”, relatou um comerciante. “Antes fechávamos contratos para 50 ou cem carros com revendedores. Agora é um contrato por carro. O volume é o mesmo, mas o trabalho é muito maior.”