Acidente com submarino russo gera mistério geopolítico, diz NYT

Embarcação pegou fogo em 2019 na costa norueguesa; pouco se sabe sobre atividades dos 14 mortos ali

Quase um ano após o incêndio no submarino russo Losharik no mar de Barents, que matou 14 marinheiros em 1 de julho de 2019, ainda não se sabe o que os oficiais faziam ali.

O Losharik circulava perto da costa norueguesa quando o fogo começou. Apenas alguns pescadores russos testemunharam o resgate da embarcação.

Oficialmente, informou na época a agência Associated Press, o submarino circulava a região para “medir as profundidades das águas territoriais russas”. O Losharik chegava a 6 mil metros de profundidade, ou dez vezes mais que os submarinos tripulados dos EUA.

Os 14 marinheiros a bordo do submarino russo Losharik
Os 14 marinheiros a bordo do submarino russo Losharik (Foto: Ministério da Defesa da Rússia/Reprodução NYT)

Naquele julho de 2019, o presidente Vladimir Putin enviou seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, a Severomorsk, porto ártico na distante Murmansk, perto da fronteira com Noruega e Finlândia. Sua tarefa, segundo a agência norte-americana, era “vigiar a investigação e informá-lo pessoalmente”.

O próprio mandatário russo afirmou que a missão do Losharik “não era comum”. “É uma embarcação de pesquisa com pessoal altamente profissional”, disse, quando anunciou que dois dos 14 mortos haviam recebido, postumamente, a mais alta honraria no país, de Herói da Rússia. Outros sete foram agraciados com a posição de capitão.

Informações mais detalhadas do acidente, porém, “pertenciam à categoria de dados secretos”, afirmou um porta-voz do presidente da Rússia. O plano de Moscou, segundo o Times, é restaurar o submarino para que possa retornar às atividades.

Interesses geopolíticos

O incidente ofereceria algumas pistas, de acordo com o jornal norte-americano “The New York Times”, das “ambições militares russas em mares profundos”.

Ali, no fundo do oceano, há milhares de quilômetros de cabos de fibra ótica, responsáveis pelo tráfego de internet e de operações financeiras de todo o mundo. A quase totalidade, ou 97% dos dados de comunicação globais, passam pelos cabos submarinos, segundo estudo de 2017 do instituto britânico Policy Exchange.

Também há interesses econômicos, segundo a reportagem. Um exemplo seria a criação de passagens pelo Ártico à medida que a camada de gelo da região diminui com o aquecimento global. Expandir a produção de petróleo e gás por ali também seria vantajoso para Moscou.

A 1.400 quilômetros e também à beira do mar Ártico, a península de Yamal recebe bilhões em investimentos para extrair cerca de 17 trilhões de metros cúbicos de gás natural. O produto extraído abastecerá a Europa ocidental por meio de um gasoduto que está sendo construído no mar Báltico.

Cerca de 65% das exportações russas em 2018 estavam relacionadas ao setor de energia, como petróleo, gás e carvão, segundo o Banco Mundial.

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