Juiz polonês se coloca ao lado de Rússia e Belarus e solicita asilo ao governo belarusso

As tensões entre Varsóvia e Minsk têm aumentado devido à repressão política em Belarus, à crise migratória e ao apoio de Lukashenko à ofensiva russa na Ucrânia

Um juiz polonês de alto escalão buscou asilo político em Belarus nesta segunda-feira (5), em um gesto de protesto contra o que descreveu como a política injusta e prejudicial da Polônia em relação a Minsk e à Rússia. As informações são do site Politico.

Em uma carta de renúncia publicada pelo X, antigo Twitter, Tomasz Szmydt anunciou sua saída imediata do cargo de juiz no Tribunal Administrativo de Varsóvia.

Szmydt declarou que sua decisão é um protesto contra as ações que, segundo ele, estão conduzindo seu país a um conflito militar direto com Belarus e a Rússia. Ele instou as autoridades polonesas a normalizarem e estabelecerem boas relações de vizinhança com Minsk e Moscou.

O juiz também fez uma aparição em uma coletiva de imprensa em Minsk, um dos poucos aliados da Rússia na guerra contra a Ucrânia, elogiando o regime do presidente Alexander Lukashenko por governar um “país florescente”.

Durante o evento, ele argumentou que as autoridades de Varsóvia, sob a influência dos Estados Unidos e do Reino Unido, estão “conduzindo o país à guerra”. A sua fuga para Minsk foi denunciada em Varsóvia.

Soldados da Polônia fazem a segurança na fronteira com Belarus (Foto: divulgação/twitter.com/mblaszczak)

Durante uma coletiva de imprensa na capital polonesa, Stanisław Żaryn, assessor do presidente Andrzej Duda, manifestou sua condenação de forma veemente: “Qualquer indivíduo que escape da Polônia para a Belarus com intuito de difamar a reputação da Polônia e da comunidade da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte], à qual pertencemos, é considerado um traidor e desonrado”.

O ministro das Relações Exteriores, Radosław Sikorski, se mostrou surpreso diante da notícia, declarando: “É uma informação chocante que tenho dificuldade em comentar”.

As relações entre a Polônia e Belarus atingiram seu ponto mais baixo em décadas. Varsóvia acusou o governo de Minsk de orquestrar uma crise migratória ao longo da fronteira comum, de apoiar a guerra russa na Ucrânia e de reprimir violentamente a dissidência após as eleições presidenciais de 2020, contestadas por Lukashenko.

Szmydt, juiz polonês, conhecido por sua mudança de posição política, agora está de volta aos holofotes após sua deserção para em Belarus. Em 2019, ele foi ligado a um grupo que visava desacreditar juízes contrários ao governo. Posteriormente, em 2022, ele denunciou o que chamou de conduta antiética de juízes pró-governo.

Sua deserção segue o padrão de outros casos semelhantes, como o do soldado polonês Emil Czeczko, que fugiu para Belarus em dezembro de 2021 e criticou publicamente a resposta polonesa à crise migratória, antes de supostamente cometer suicídio em Minsk, em março de 2022.

Suspeita de espionagem

Promotores poloneses anunciaram nesta segunda-feira o início de uma investigação sobre espionagem após a fuga de Szmydt para o país vizinho, onde supostamente solicitou asilo em meio a acusações de espionagem que ele nega. As informações são da agência Reuters.

Em comunicado no X, os promotores declararam que estão “conduzindo uma investigação em relação à informação de que um juiz pediu asilo político em Belarus”. Citando o código penal, que prevê uma pena de pelo menos oito anos de prisão para casos de espionagem, os promotores ressaltaram a gravidade das acusações.

Enquanto isso, o serviços secreto polonês, o ABW, afirmou em um comunicado separado que estão avaliando “a extensão da informação confidencial à qual o juiz teve acesso”.

Por que isso importa?

Em 2021, a Polônia ergueu uma cerca de aproximadamente 5,5 metros de altura ao longo das porções terrestres de sua fronteira com Belarus, na tentativa de conter a onda de migrantes que tentam ingressar no país. A maioria são cidadãos de países do Oriente Médio, como Iraque, Síria e Afeganistão, que passam por Belarus e são direcionados aos países da UE.

Além da Polônia, a questão tornou-se problemática também para três ex-repúblicas soviéticas, Lituânia, Letônia e Estônia.

Os países acusam o presidente belarusso Alexander Lukashenko de incentivar o movimento de migrantes rumo à fronteira. A ação seria uma resposta do mandatário às sanções impostas pelo bloco a Belarus, acusado de reprimir violentamente as manifestações pró-democracia de agosto de 2020.

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