Após pleito com indícios de fraude, candidata de oposição deixa Belarus

Governo afirma ter vencido eleição com 80%; povo vai às ruas por queda de presidente há 26 anos no poder

A candidata à Presidência de Belarus Sviatlana Tsikhanouskaia, que teria recebido apenas 10% dos votos mesmo com o país tomado por manifestações contra o atual mandatário, Alexander Lukashenko, fugiu nesta segunda (10) para a Lituânia.

Antes de cruzar a fronteira rumo ao país vizinho, Tsikhanouskaia gravou um vídeo, no qual pedia à população “prudência e respeito à lei”. Desde o início das manifestações, três mil pessoas já foram presas, segundo o Ministério do Interior bielorrusso.

“Não quero derramamento de sangue nem violência. Peço a vocês que não entrem em conflito com a polícia, que não levem a questão às ruas, que não arrisquem suas vidas”, afirmou. “O povo bielorrusso fez sua escolha.”

Em Belarus, opositora deixa o país em meio a protestos por fraude eleitoral
A candidata à presidência de Belarus, Svetlana Tsikhanouskaia, em comício neste ano (Foto: Serge Serebro/Vitebsk Popular News)

Uma das principais assessoras da candidata, Maria Kolesnikova, afirmou em coletiva que Tsikhanouskaia pode ter gravado o vídeo sob pressão de oficiais do governo de Lukashenko, no poder desde 1994. A informação é da Tass, agência de notícias do governo da Rússia.

“Por três horas, Svetlana permaneceu no escritório da Comissão Eleitoral Central, com dois policiais de alta patente. A mensagem foi gravada ali”, explicou Kolesnikova. Outra assessora, Maria Moroz, está na Lituânia com a candidata, mulher do ex-candidato Sergei Tsikhanouski, preso em maio.

O país está em chamas desde as eleições do último domingo, sobre a qual chovem acusações de fraude. O atual presidente, considerado o “último ditador da Europa”, alega ter vencido um sexto mandato com 80,08% dos votos. Tsikhanouskaia já afirmou não reconhecer o resultado.

Ainda noite de domingo, após a eleição, o governo já suspendia o acesso à internet no país. Mesmo servidores de VPN (rede privada virtual, do inglês), que escondem a identificação do usuário, estavam bloqueados.

Guarida europeia

A ministra do Interior lituana, Rita Tamasuniene, afirmou que o país está aberto para eventuais pedidos de asilo de opositores do regime de Lukashenko. Parte da UE (União Europeia) e da zona do euro, a Lituânia já teria um plano para receber essas pessoas, afirmou.

“Não é a primeira vez que membros da oposição bielorrussa buscam asilo em nosso país”, explicou a ministra. “Se acontecer novamente, por razões políticas ou possíveis ameaças, estamos prontos para apoiá-los até que haja condições para que retornem em segurança.”

Não faltaram manifestações de desagravo por parte de países ocidentais e organizações internacionais, como a Human Rights Watch, a respeito das eleições de domingo. Os EUA, em comunicado, afirmaram estar “profundamente preocupados” com a condução do pleito.

A Secretaria de Estado relatou que observadores internacionais foram proibidos de acompanhar pontos de votação. O Reino Unido também se queixou da ausência de entidades independentes e afirmou que diplomatas vinculados à embaixada na capital Minsk também tiveram acesso negado.

Já o Conselho da Europa, a quem recai a responsabilidade de observação do pleito, afirma que as eleições não foram “nem livres, nem justas”. Nenhum manifestou a possibilidade de sanções contra o governo de Belarus.

Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, parabenizaram Lukashenko por sua sexta reeleição. Já a chancelaria bielorrussa acusou países estrangeiros de ingerência em assuntos internos.

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