A candidata à Presidência de Belarus Svetlana Tikhanovskaya, que teria recebido apenas 10% dos votos mesmo com o país tomado por manifestações contra o atual mandatário, Aleksander Lukashenko, fugiu nesta segunda (10) para a Lituânia.
Antes de cruzar a fronteira rumo ao país vizinho, Tikhanovskaya gravou um vídeo, no qual pedia à população “prudência e respeito à lei”. Desde o início das manifestações, três mil pessoas já foram presas, segundo o Ministério do Interior bielorrusso.
“Não quero derramamento de sangue nem violência. Peço a vocês que não entrem em conflito com a polícia, que não levem a questão às ruas, que não arrisquem suas vidas”, afirmou. “O povo bielorrusso fez sua escolha.”

Uma das principais assessoras da candidata, Maria Kolesnikova, afirmou em coletiva que Tikhanovskaya pode ter gravado o vídeo sob pressão de oficiais do governo de Lukashenko, no poder desde 1994. A informação é da Tass, agência de notícias do governo da Rússia.
“Por três horas, Svetlana permaneceu no escritório da Comissão Eleitoral Central, com dois policiais de alta patente. A mensagem foi gravada ali”, explicou Kolesnikova. Outra assessora, Maria Moroz, está na Lituânia com a candidata, mulher do ex-candidato Syarhei Tsikhanouski, preso em maio.
O país está em chamas desde as eleições do último domingo, sobre a qual chovem acusações de fraude. O atual presidente, considerado o “último ditador da Europa”, alega ter vencido um sexto mandato com 80,08% dos votos. Tikhanovskaya já afirmou não reconhecer o resultado.
Ainda noite de domingo, após a eleição, o governo já suspendia o acesso à internet no país. Mesmo servidores de VPN (rede privada virtual, do inglês), que escondem a identificação do usuário, estavam bloqueados.
Update: It has been almost 24 hours since #Belarus fell largely offline after a series of worsening internet disruptions during Sunday's elections.
— NetBlocks (@netblocks) August 10, 2020
Real-time network data confirm the incident is ongoing, limiting freedom of expression and assembly ?
? https://t.co/JcBhvhgVcR pic.twitter.com/Siz33QIFqU
Guarida europeia
A ministra do Interior lituana, Rita Tamasuniene, afirmou que o país está aberto para eventuais pedidos de asilo de opositores do regime de Lukashenko. Parte da UE (União Europeia) e da zona do euro, a Lituânia já teria um plano para receber essas pessoas, afirmou.
“Não é a primeira vez que membros da oposição bielorrussa buscam asilo em nosso país”, explicou a ministra. “Se acontecer novamente, por razões políticas ou possíveis ameaças, estamos prontos para apoiá-los até que haja condições para que retornem em segurança.”
Não faltaram manifestações de desagravo por parte de países ocidentais e organizações internacionais, como a Human Rights Watch, a respeito das eleições de domingo. Os EUA, em comunicado, afirmaram estar “profundamente preocupados” com a condução do pleito.
A Secretaria de Estado relatou que observadores internacionais foram proibidos de acompanhar pontos de votação. O Reino Unido também se queixou da ausência de entidades independentes e afirmou que diplomatas vinculados à embaixada na capital Minsk também tiveram acesso negado.
Já o Conselho da Europa, a quem recai a responsabilidade de observação do pleito, afirma que as eleições não foram “nem livres, nem justas”. Nenhum manifestou a possibilidade de sanções contra o governo de Belarus.
Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, parabenizaram Lukashenko por sua sexta reeleição. Já a chancelaria bielorrussa acusou países estrangeiros de ingerência em assuntos internos.