Desde a semana passada, a Ucrânia realiza uma ousada ofensiva dentro do território da Rússia, que forçou Moscou a deslocar suas tropas para proteger a região de Kursk e a evacuar civis de áreas atacadas ou ameaçadas. A operação tem o aval da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e seu sucesso não seria possível sem os aliados ocidentais de Kiev, sobretudo os EUA, cujas armas têm sido decisivas para o avanço ucraniano.
Ouvido pela rede Voice of America (VOA), Vladislav Seleznyov, ex-porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia, destacou o papel crucial desempenhado pelo HIMARS (sistema de foguetes de artilharia de alta mobilidade), cedido a Kiev por Washington e desde o início do conflito protagonista na defesa da Ucrânia.
“A inteligência ucraniana funcionou perfeitamente. Portanto, algumas das colunas inimigas correndo para ajudar o exército russo na região de Kursk foram destruídas graças à artilharia e aos drones. Talvez à aviação”, disse Seleznyov. “E, claro, o verdadeiro flagelo do exército russo são os HIMARS, que transformam em cinzas uma enorme quantidade de armas, equipamentos e pessoal do exército russo.”
O aval ocidental para uso das armas que forneceram, entretanto, é limitado. John Hardie, vice-diretor do Programa Russo na Fundação para a Defesa das Democracias, diz que o as tropas de Kiev poderiam ter ainda mais sucesso se pudessem adotar na ofensiva o Sistema de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS, na sigla em inglês) MGM-140, com alcance de até 300 quilômetros.
“Se os EUA tivessem dado luz verde para o uso do ATACMS em território russo, acho que os britânicos e talvez os franceses teriam seguido o exemplo com seus mísseis de cruzeiro que forneceram à Ucrânia”, afirma Hardie. “Acredito que essas armas seriam úteis nesta ofensiva, inclusive para atacar postos de comando russos, centros logísticos ou outros alvos mais distantes do que o HIMARS pode alcançar.”
Estado de emergência na Rússia
Desde que invadiram a região, as tropas ucranianas alegam ter assumido o controle de ao menos 74 assentamentos dentro do território russo. Isso levou à evacuação de cerca de 120 mil civis, com outros 60 mil aguardando para deixar suas casas, conforme revelou Alexey Smirnov, governador regional nomeado pelo Kremlin para Kursk.
De acordo com a agência Reuters, a população vem sendo igualmente retirada de Belgorod, que também faz fronteira com o território ucraniano e decretou estado de emergência. O governador Vyacheslav Gladkov disse em um vídeo no Telegram que a situação ali está “extremamente difícil e tensa”, com casas destruídas e civis mortos e feridos.
O aval da Otan
O apoio a Kiev não se limita aos EUA. Membro da Otan, a Polônia aprovou a operação, com o primeiro-ministro Donald Tusk afirmando que os ucranianos “têm todo o direito de travar uma guerra de forma a paralisar a Rússia”, conforme relatou a revista Newsweek.
Segundo ele, o uso das armas ocidentais dentro do território russo se justifica porque as ações da Ucrânia são “defensivas”. Uma avaliação semelhante à feita pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, citado pelo site Politico: “A Ucrânia tem o direito à autodefesa consagrado na lei internacional”, disse Berlim.
Até o governo norte-americano fala abertamente sobre a ofensiva, sem mostrar qualquer contrariedade. “Obviamente, apoiamos fortemente o esforço da Ucrânia para se defender contra a agressão da Rússia”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, na semana passada. “A política que anunciamos foi permitir que a Ucrânia respondesse a ataques vindos de um pouco além da fronteira russa. E, sim, na área onde eles estão operando atualmente, do outro lado da fronteira russa, vimos ataques vindos de lá.”