O que sobra em coragem à Ucrânia falta em munição, segundo o chefe da Otan

Jens Stoltenberg cobra dos membros da aliança que abram os cofres e enviem mais apoio militar a Kiev: 'Cada dia conta'

A redução do envio de ajuda militar por parte dos aliados ocidentais, atrelada ao endurecimento da ofensiva pelas tropas da Rússia, coloca a Ucrânia em maus lençóis no conflito em curso na Europa. O chefe da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, disse que a entrega de armas e principalmente munição se faz urgente, e cada dia de atraso pesa contra o país invadido.

“Os ucranianos não estão ficando sem coragem, estão ficando sem munições”, disse o chefe da aliança durante evento em Bruxelas, segundo relatou a rede Radio Free Europe (RFE). “Juntos, temos capacidade de fornecer à Ucrânia o que ela precisa. Agora, precisamos mostrar vontade política para isso. Todos os aliados precisam cavar fundo e entregar rapidamente. Cada dia de atraso tem consequências reais no campo de batalha na Ucrânia.”

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (esq.), e Jens Stoltenberg (Foto: facebook.com/NATO)

O apelo de Stoltenberg surge conforme os EUA enfrentam seus próprios desafios com os estoques de munição. No começo da semana, Washington revelou que precisará investir ao menos US$ 10 bilhões para repor as armas que foram entregues a Kiev durante a guerra, segundo a rede Voice of America.

Ainda assim, o Pentágono anunciou na quinta-feira (14) uma nova entrega, avaliada em US$ 300 milhões. “As capacidades fornecidas no pacote de hoje incluem mísseis antiaéreos Stinger, munição adicional para sistemas de foguetes de artilharia de alta mobilidade (HIMARS), projéteis de artilharia, armas antitanque, demolições e munições para armas pequenas, além de peças sobressalentes e outros equipamentos auxiliares”, disse o Departamento de Estado.

No entanto, uma proposta maior, de US$ 95 bilhões destinada também a Israel e Taiwan, segue parada devido à disputa política entre republicanos e democratas. “Esperamos fornecer apoio adicional dos EUA, se o Congresso agir de acordo com o pedido do presidente. Instamos a Câmara a aprovar a proposta suplementar o mais rapidamente possível”, afirma o mesmo comunicado, indicando que o dinheiro seria investido também na indústria de defesa local.

Quem igualmente se movimentou em apoio a Kiev após superar seus próprios obstáculos foi a União Europeia (UE), que se comprometeu a repassar 5 bilhões de euros, que se somariam aos mais de 6 bilhões de euros que já comprometidos desde 2022, de acordo com a rede Euronews.

“A UE continua determinada a fornecer apoio duradouro à Ucrânia e a garantir que o país obtenha o equipamento militar necessário para se defender”, disse o bloco através da rede social X, antigo Twitter.

Na visão de Stoltenberg, não deve haver limites para o apoio aos ucranianos, e os recentes pacotes deveriam ser apenas parte de algo maior. “O apoio sem precedentes dos aliados da Otan ajudou a Ucrânia a sobreviver como nação soberana, mas a Ucrânia precisa de ainda mais apoio, e eles precisam dele agora”, declarou.

A escassez de munição tem levado a Ucrânia a racionar seus estoques, enquanto Moscou não parece enfrentar o mesmo problema. O país tem sua indústria de defesa trabalhando ininterruptamente para manter as tropas equipadas, segundo relatório divulgado na segunda-feira (11) pelo governo dos EUA. Tanto que obteve uma importante conquista ao assumir o controle da cidade de Avdiivika.

“A indústria de defesa da Rússia está aumentando significativamente a produção de uma panóplia de armas de ataque de longo alcance, munições de artilharia e outras capacidades que lhe permitirão sustentar uma guerra longa e de alta intensidade, se necessário”, afirma o relatório do Gabinete da Diretora de Inteligência Nacional (ODNI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

A mesma situação foi destacada por uma avaliação de inteligência da Otan, cujo conteúdo foi acessado com exclusividade pela rede CNN. A aliança afirma que a produção de munição pela Rússia é quase três vezes superior às de EUA e Europa somadas atualmente.

Diante de tal cenário, Stoltenberg admitiu que “este é um momento crítico”, temendo que uma vitória encoraje Moscou a agir contra a própria aliança no futuro. “Seria um grande erro histórico permitir que Putin prevaleça. Não podemos permitir que líderes autoritários consigam o que querem usando a força. Isto seria perigoso para todos nós”, declarou, segundo a RFE.

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