Armênia relata a morte de 49 soldados em meio a escalada de tensão com o Azerbaijão

Animosidade remete à disputa por Nagorno-Karabakh, território de maioria armênia cristã que declarou independência

A tensão entre Armênia e Azerbaijão escalou novamente nos últimos dias, com confrontos entre tropas dos dois países e o relato de que 49 soldados armênios morreram em um ataque azeri nesta terça-feira (13). As informações são da rede Radio Free Europe.

“À 00h05 da terça-feira (horário local), o Azerbaijão lançou um bombardeio intensivo, com artilharia e armas de fogo de grande calibre, contra posições militares armênias na direção das cidades de Goris, Sotk e Jermuk”, disse o Ministério da Defesa armênio.

Já o governo azeri diz que apenas contra-atacou após “atos subversivos em larga escala” do lado oposto, reportando baixas não especificadas e danos à infraestrutura militar após ataques “inclusive com morteiros de trincheiras”.

A Turquia, aliada do Azerbaijão na disputa, fez a mesma acusação, com o ministro da Defesa Hulusi Akar falando em “atitude agressiva e ações provocativas da Armênia”, segundo a agência Associated Press.

O primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan, por sua vez, anunciou os 49 mortos e disse que “infelizmente não é o número final”. Afirmou ainda que manteve contato com o presidente da Rússia Vladimir Putin para tentar contornar a situação. Moscou intermediou um cessar-fogo, mas não está claro se ele será respeitado.

“O presidente faz todos os esforços para contribuir para a diminuição das tensões na fronteira. Esses esforços continuam”, afirmou Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin.

Já o Ministério das Relações Exteriores da Rússia se disse “extremamente preocupado” com o recente confronto. “Esperamos que um acordo alcançado como resultado da mediação russa sobre um cessar-fogo seja cumprido integralmente”, disse a pasta.

Um dos raros registros dos líderes da Armênia, Nikol Pashinyan (esquerda), e do Azerbeijão, Ilham Aliyev, juntos, no Fórum Econômico Mundial, Davos, janeiro de 2019 (Foto: Divulgação/Presidência Azerbeijão)

Por que isso importa?

A animosidade entre Armênia e Azerbaijão está atrelada à disputa pela região de Nagorno-Karabakh, um território de maioria armênia cristã que declarou independência do Azerbaijão, um país majoritariamente muçulmano, em meio a uma guerra entre 1988 e 1994. O confronto causou 30 mil mortes e desalojou centenas de milhares de pessoas, com a reivindicação de independência não reconhecida por nenhum país.

Desde 1994, a região está sob controle de forças que o governo azeri diz incluir tropas fornecidas pela Armênia, após um primeiro cessar-fogo estabelecido com a ajuda de Rússia, Estados Unidos e França.

Em 2020, um novo conflito armado entre os dois países durou 44 dias e deixou cerca de 6,5 mil mortos na região disputada. No início de 2021 foi estabelecido um novo cessar-fogo mediado pela Rússia, que é visto com desconfiança pela população armênia.

A Armênia decidiu ceder às tratativas quando se viu encurralada pelas forças azeris na capital regional, Stepanakert. No entanto, o acordo nem sempre é respeitado, e até hoje não surgiu uma solução duradoura para a questão.

Em maio deste ano, um encontro realizado em Bruxelas aproximou os governos dos dois países de um novo pacto pela em Nagorno-Karabakh, com um debate paralelo para delimitar as fronteiras da região. Entretanto, a situação na região saiu de controle em setembro, com temor de que venha a desencadear um conflito de maiores proporções.

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