Ataque ucraniano expõe vulnerabilidades russas e mostra que a vastidão territorial não protege o país

Análise do think tank CSIS mostra como operação com drones baratos e software livre redesenhou os limites da guerra moderna

No exato dia em que a Rússia comemorava a Aviação de Transporte Militar, domingo (1º), a retaguarda de sua força aérea sofreu o golpe mais profundo desde o início da invasão à Ucrânia. Em uma análise publicada pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), a pesquisadora Kateryna Bondar revela os bastidores da operação ucraniana “Teia de Aranga”, que destruiu ou danificou mais de 40 aeronaves de longo alcance em quatro bases militares espalhadas pelo território russo, inclusive no Ártico e na Sibéria.

A ofensiva foi concebida para ser um ataque coordenado, invisível e devastador. Em vez de mísseis de cruzeiro ou aviões tripulados, a Ucrânia usou cerca de 150 drones compactos, montados com peças de prateleira, controlados à distância por redes 4G russas e equipados com o software livre ArduPilot. O custo unitário estimado de cada drone: entre US$ 600 (R$ 3,4 mil) e US$ 1.000 (R$ 5,6 mil). O valor das aeronaves atingidas: bilhões de dólares.

Drone ucraniano R18 (Foto: WikiCommons)

Mais do que uma façanha tecnológica, Bondar argumenta que a operação expôs uma fraqueza estrutural do sistema militar russo: a crença de que a geografia ainda oferece proteção. Ela explica que bases em Murmansk e Irkutsk eram consideradas fora do alcance ucraniano, ao menos até agora. A operação “Teia de Aranha”, porém, demonstrou que não tal argumento não é válido quando o inimigo é criativo, invisível e improvisado.

Cada um dos quatro alvos — Olenya, Diaghilevo, Belaya e Ivanovo — tinha um papel vital na estrutura aérea russa, seja como base de bombardeiros estratégicos Tu-95 e Tu-22M3, seja como centro de manutenção ou como abrigo dos raros aviões A-50 de alerta aéreo. Em Ivanovo, por exemplo, operam as únicas aeronaves capazes de detectar sistemas de defesa ucranianos e coordenar ataques. A perda de apenas um desses aparelhos já compromete a capacidade de comando e controle da aviação russa.

Bondar ressalta ainda que o impacto do ataque vai além da destruição física. A Ucrânia teria estudado aviões antigos preservados em museus para treinar algoritmos de visão computacional capazes de identificar pontos vulneráveis nas aeronaves, como tanques de combustível e suportes de míssil. A análise sugere que os drones podem ter usado reconhecimento de imagem para executar ataques de precisão mesmo sem contato visual humano direto no momento do impacto.

“A operação ‘Teia de Aranha’ não apenas demonstrou a engenhosidade tática da Ucrânia, como também iluminou as mudanças tecnológicas e estratégicas mais amplas que estão remodelando a guerra moderna”, diz a autora. “A operação meticulosamente planejada representa um marco significativo na evolução das capacidades de guerra assimétrica da Ucrânia e sinaliza uma grande vulnerabilidade na retaguarda da Rússia.”

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