A ativista e estrategista política belarussa Maryia Kalesnikava, presa desde setembro de 2020 por seu envolvimento em protestos populares contra o presidente Alexander Lukashenko, vem sendo mantida incomunicável há mais de 18 meses, conforme cresce a preocupação com seu estado de saúde. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
Kalesnikava foi presa em setembro de 2020 e levada à fronteira com a Ucrânia, onde recebeu ordens para deixar Belarus. Em protesto, ela rasgou seu passaporte e se recusou a sair. Então, foi presa e acusada de conspirar para derrubar Lukashenklo.
As acusações contra eles foram as de “conspiração para tomar o poder por meios inconstitucionais”, “criação e liderança de uma organização extremista” e “apelos para ações destinadas a causar danos à segurança nacional” usando os meios de comunicação e a Internet.
Julgada um ano depois, em setembro de 2021, foi condenada a 11 anos e dez meses de prisão. No início de 2024, fontes citadas pela RFE disseram que ela chegou a passar mais de um ano em confinamento solitário, contrariando inclusive a legislação local que estabelece um prazo máximo de seis meses.
“Só posso rezar a Deus para que ela esteja viva. As autoridades ignoram meus pedidos de reuniões e cartas. É um sentimento terrível de impotência para um pai”, disse o pai dela, Alexander Kalesnikau, em entrevista à agência Associated Press (AP).
Ainda de acordo com o pai, que tentou visitá-la diversas vezes sem sucesso, ela está doente. Em uma das oportunidades em que tentou vê-la, o diretor do presídio deu a entender que o silêncio de Kalesnikava ocorre apenas por um desejo dela própria.
O caso da ativista chegou a ser citado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em maio de 2023. Na ocasião, um grupo de especialistas independentes em direitos humanos instou as autoridades de Belarus a libertar imediatamente todos os detidos sob “acusações espúrias”, sendo Kalesnikava uma das protagonistas.
De acordo com os especialistas, as condições de detenção tiveram um impacto negativo na saúde física e mental dos presos políticos belarussos. A eles teria sido negado o acesso a exames e tratamento de saúde, bem como a representação legal adequada e o contato com suas famílias.
“A detenção incomunicável, com risco de desaparecimento forçado, é indicativa de uma estratégia para punir oponentes políticos e ocultar evidências de maus-tratos e tortura por parte das autoridades policiais e penitenciárias”, disseram os especialistas independentes na oportunidade.