Cabos submarinos rompidos intensificam investigações sobre frota sombra russa

Autoridades finlandesas apreenderam um petroleiro russo, suspeito de causar danos a cabos de energia e internet no Mar Báltico. A investigação aponta possível sabotagem envolvendo a âncora do navio

As autoridades da Finlândia confiscaram, na quinta-feira (26), o navio Eagle S, registrado nas Ilhas Cook, sob suspeita de envolvimento na danificação de um cabo submarino de energia que conecta o país à Estônia. O incidente ocorreu no Mar Báltico na quarta-feira (25) e também resultou em danos ou rompimentos em quatro linhas de internet, causando preocupações em relação à infraestrutura crítica da região. As informações são da Reuters.

O navio foi interceptado pela guarda costeira finlandesa, que assumiu o controle da embarcação e a conduziu para águas territoriais da Finlândia. Robin Lardot, diretor do Escritório Nacional de Investigação da Finlândia, afirmou em coletiva de imprensa que as autoridades estão investigando uma “sabotagem grave”.

“Entendemos que uma âncora do navio investigado tenha causado o dano”, declarou Lardot.

Autoridades finlandesas apreenderam um petroleiro russo, suspeito de causar danos a cabos de energia e internet no Mar Báltico. A investigação aponta possível sabotagem envolvendo a âncora do navio
Navio da Guarda Costeira finlandesa (Foto: WikiCommons)

As autoridades alfandegárias também apreenderam a carga do navio, que, segundo apurações preliminares, pertence à chamada “frota sombra” de petroleiros russos, criada para contornar as sanções internacionais contra a venda de petróleo da Rússia.

Esse conjunto de navios também opera de forma paralela ou clandestina para transportar, armas, grãos e outros bens em violação às sanções internacionais impostas a Moscou.

Impacto regional

De acordo com a agência finlandesa de transporte e comunicações Traficom, dois cabos de fibra óptica operados pela finlandesa Elisa, que conectam a Finlândia à Estônia, foram rompidos, enquanto um terceiro cabo, pertencente à empresa chinesa Citic, sofreu danos. Além disso, um quarto cabo que liga a Finlândia à Alemanha, operado pela empresa finlandesa Cinia, também foi cortado. O reparo do cabo de energia Estlink 2, com 170 quilômetros de extensão, levará meses, segundo a operadora Fingrid. A interrupção no fornecimento aumentou o risco de falta de energia durante o inverno, embora as autoridades estonianas tenham garantido que o país continuará com acesso suficiente à eletricidade.

Dados do rastreamento de navios pela plataforma MarineTraffic indicam que o Eagle S cruzou o trajeto do cabo Estlink 2 às 10h26 de quarta-feira, mesmo horário em que a Fingrid relatou a interrupção de 658 megawatts na transmissão elétrica entre os dois países. A empresa Caravella LLCFZ, com sede nos Emirados Árabes Unidos e apontada como proprietária do navio, não se pronunciou sobre o incidente. Já a Peninsular Maritime, que atua como gestora técnica da embarcação, recusou-se a comentar.

Sabotagem no Báltico

O episódio intensificou os alertas de segurança em relação à infraestrutura submarina no Mar Báltico. Desde 2022, a região tem registrado uma série de incidentes envolvendo cabos de energia, linhas de telecomunicações e gasodutos. Embora falhas técnicas e acidentes sejam possibilidades, especialistas apontam que os danos podem ser resultado de sabotagens sistemáticas. O ministro das Relações Exteriores da Estônia, Margus Tsahkna, destacou que “os danos à infraestrutura submarina se tornaram mais frequentes e devem ser considerados ataques contra estruturas vitais”.

Em 2022, os gasodutos Nord Stream, que conectam a Rússia à Alemanha, sofreram explosões ainda sob investigação. Outro incidente ocorreu no gasoduto Balticconnector, que liga a Finlândia à Estônia, quando cabos foram danificados por uma âncora de navio.

Reação internacional

A União Europeia (UE) condenou veementemente qualquer destruição deliberada da infraestrutura crítica do continente. Em declaração conjunta, Kaja Kallas, chefe de política externa da UE, e a Comissão Europeia elogiaram a rápida ação das autoridades finlandesas.

O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Mark Rutte, afirmou que a organização está pronta para fornecer apoio às investigações. Líderes europeus também destacaram a necessidade de aumentar a proteção da infraestrutura submarina na região.

Em resposta à crescente preocupação com a “frota sombra” de navios russos, doze países ocidentais anunciaram, em dezembro, medidas para interromper e dissuadir violações de sanções, buscando aumentar os custos da guerra para Moscou. O presidente da Finlândia, Alexander Stubb, enfatizou a importância de prevenir os riscos representados por essas embarcações.

Tags: