Rússia usa tecnologia fornecida pela China para manter ativa sua máquina de guerra na Ucrânia

Venda de produtos de uso duplo esbarra nas sanções ocidentais e coloca as empresas chinesas na mira do governo norte-americano

A China continua fornecendo à Rússia tecnologia de uso duplo, capaz de ser empregada na indústria de defesa para alimentar a máquina de guerra do Kremlin na Ucrânia. A situação, revelada pelo think tank norte-americano Silverado Policy Accelerator, de Washington, vai na contramão das sanções ocidentais impostas a Moscou em função do conflito, embora não esteja claro se de fato desrespeita a proibição.

De acordo com relatório do think tank, entre os itens teoricamente abraçados pelas sanções, impostas por uma coalizão de 37 aliados encabeçada pelos EUA, estão semicondutores produzidos com tecnologias, ferramentas e softwares avançados norte-americanos. Isso porque esses artigos podem ter uso final ou usuário final no setor militar.

“A Rússia tem feito esforços significativos para restabelecer uma rede de fornecedores em países não sancionados para a obtenção de semicondutores devido ao seu uso potencial em aplicações militares. Hong Kong e China foram os maiores exportadores desses semicondutores após a invasão da Ucrânia”, diz o relatório.

Ainda de acordo com o think tank, a venda dos semicondutores esbarra nas sanções, cujo objetivo é “estrangular as exportações de tecnologias e outros itens que apoiam a base industrial de defesa da Rússia” e “degradar as capacidades militares da Rússia e a capacidade de projetar poder”.

Míssil russo disparado durante treinamento (Foto: reprodução/Facebook)

O caso gerou uma reação do governo norte-americano, que entrou em contato com Beijing para manifestar sua insatisfação. Porém, de acordo com uma fonte com conhecimento do assunto, que falou à a agência Reuters sob condição de anonimato, o desrespeito aos vetos impostos pelas nações ocidentais não fica totalmente claro.

“O que estamos vendo é assistência militar não letal e apoio econômico que não chega à evasão total das sanções”, disse o informante. Ainda segundo a mesma fonte, a venda de tecnologia é uma espécie de plano B, “uma versão significativamente reduzida do plano inicial da RPC (República Popular da China), que era vender sistemas de armas letais para uso no campo de batalha”.

Karine Jean-Pierre, secretária de imprensa da Casa Branca, confirmou o contato diplomático do governo norte-americano com o chinês. “Continuaremos a comunicar à China as implicações de fornecer apoio material à guerra da Rússia contra a Ucrânia”, disse ela.

Já Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, sugeriu que o caso não necessariamente envolve Beijing. Mas o problema não seria menor por isso. “Ficaríamos preocupados se víssemos não apenas a própria RPC envolvida nisso, mas também empresas chinesas, empresas da RPC, fazendo isso”.

Economia russa em recuperação

Em seu documento, o Silverado Policy Accelerator destaca ainda a importação de itens diversos pela Rússia, como forma de driblar as sanções e continuar a fornecer a seus cidadãos produtos que estariam teoricamente indisponíveis devido à interrupção das rotas comerciais tradicionais.

Nos primeiros meses após a invasão russa à Ucrânia, o impacto das sanções foi grande. “As importações russas caíram acentuadamente em março e abril de 2022, e em abril de 2022 estavam 43% abaixo do nível médio pré-guerra”, diz o documento.

Depois disso, porém, Moscou conseguiu atenuar o problema. “As importações russas então se recuperaram, excedendo a média das importações mensais pré-guerra em setembro de 2022. No período de três meses mais recente, agosto a outubro de 2022, as importações combinadas foram 1% menores do que no mesmo período de 2019 e 11% menores do que no mesmo período de 2021”.

Atualmente, o que se vê é uma Rússia capaz de compensar as sanções com o uso de produtos que substituem os alvos de sanções, ou mesmo optando por importar tais itens de mercados diferentes dos habituais. “No entanto, alguns desses produtos são inferiores aos bens que a Rússia era capaz de importar antes da guerra, e os preços de alguns bens aumentaram”, diz o relatório.

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