Com efetivo militar reduzido, Moscou promete R$ 340 mil a quem for à guerra

Em busca de 25 mil combatentes por mês, capital russa abre os cofres para convencer seus cidadãos a lutarem na Ucrânia

As baixas elevadas na guerra da Ucrânia têm forçado o governo da Rússia a investir em campanhas de recrutamento cada vez mais ousadas, de forma a cumprir a meta de entregar às Forças Armadas cerca de 25 mil novos combatentes por mês. A mais nova medida é a oferta de um atraente bônus financeiro aos cidadãos de Moscou, com a perspectiva de que recebam até 5,2 milhões de rublos (R$ 340 mil) no primeiro ano de serviço, segundo informações do jornal The Telegraph.

A campanha, coordenada pelo governo da capital, oferece um bônus único de 1,9 milhão de rublos (R$ 124 mil) aos moscovitas que assinarem contrato para servir às Forças Armadas. Com os acréscimos previstos em lei, como salários e alguns auxílios regionais, o faturamento dos primeiros 12 meses pode aumentar consideravelmente.

“O valor total dos pagamentos a um militar contratado (levando em conta o salário mensal e as medidas de apoio de Moscou e federais) excederá 5,2 milhões de rublos (R$ 340 mil) no primeiro ano de serviço”, disse a administração da cidade de Moscou em um anúncio divulgado na terça-feira (23).

Soldados da Guarda de Honra russa (Foto: WikiCommons/Divulgação)

O governo da capital resolveu agir porque a cidade tem fornecido pouca mão de obra às Forças Armadas na comparação com outras regiões. Isso se explica porque é em Moscou que se concentra a força de trabalho mais qualificada do país, imprescindível em outros setores que não o de defesa.

A nova campanha se soma a outras feitas pelo governo federal russo para atrair novos soldados. De acordo com o site britânico Forces Network, especializado em questões militares, a Rússia aumentou em 10,5% os salários dos combatentes em 2023, justamente a fim de atrair mais interessados. Atualmente, o ganho inicial é de 160 mil rublos (cerca de R$ 10,4 mil) ao mês, vencimento considerado bom no país, onde a média mensal é de 71,4 mil rublos (R$ 4,6 mil).

Há quem se deixe convencer, mas a ideia de colocar a vida em risco seduz cada vez menos russos. Neste ano, segundo o The Telegraph, somente 190 mil russos foram adicionados às Forças Armadas, número pequeno se comparado aos 490 mil que se alistaram ao longo dos 12 meses de 2023.

Tudo indica que os russos têm sido afetados pelos relatos que chegam da Ucrânia. Embora raros, dada a repressão imposta à divulgação de informações sobre o conflito, eles têm sido suficientes para expor o “inferno” do campo de batalhas, palavra usada por um soldado cujo vídeo viralizou nas redes sociais em abril. “Você vai ganhar dinheiro”, disse ele. “Mas você achou que seria fácil? Caramba, não!”

Na gravação, o militar adverte que aqueles que buscam heroísmo estão no lugar errado, pois logo confrontarão o horror da morte e da violência no campo de batalha. Ele descreveu a experiência como “mais que medo”, sendo um terror que os recrutas precisarão superar para evitar a deserção ou a captura.

Meio milhão de baixas

Tanto russos quanto ucranianos omitem os números de baixas oficiais, sob o argumento de que as mortes poderiam comprometer o moral no campo de batalhas. Assim, são os balanços feitos por entidades independentes e governos estrangeiros que ajudam a jogar alguma luz sobre a questão.

Um levantamento publicado em junho pelo Ministério da Defesa do Reino Unido estimou que as tropas russas já haviam superado, até ali, meio milhão de baixas, entre mortos e feridos. Números especialmente elevados nos últimos meses, devido a uma ofensiva que fez de maio o mês mais violento do conflito.

Avaliação mais precisa, entretanto, é a feito em parceria pela rede BBC e o site Mediazona. Os dois veículos de mídia levam em conta somente militares que foram identificados pelo nome e cujas mortes foram confirmadas oficialmente. Para tanto, usam informações publicamente disponíveis, como documentos oficiais, manifestações de familiares em redes sociais e publicações da imprensa regional.

Com base no método criterioso de apuração, a BBC e o Mediazona dizem que conseguiram confirmar até agora 59.725 mortes. E isso representaria apenas uma parcela dos militares russos que de fato perderam a vida no conflito, vez que não entram na lista casos que carecem de confirmação. Os investigadores dizem que “o número real de mortes russas provavelmente será muito maior.”

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