Crescem as desavenças entre os mercenários do Wagner Group e os soldados da Rússia

No mais recente episódio de tensão, um militar foi preso acusado de atirar contra os combatentes da organização privada

Não é apenas a relação entre Evgney Prigozhin e o presidente russo Vladimir Putin que está estremecida. O Wagner Group, organização paramilitar liderada pelo empresário, também mantém um relacionamento tenso com os militares regulares da Rússia, com ao menos um relato de violência entre as duas entidades. As informações são da rede BBC.

Recentemente, um integrante das forças armadas russas foi detido pelos mercenários sob a acusação de atirar contra um veículo do Wagner Group. Em vídeo publicado no Telegram, o homem admitiu ter sido o autor dos disparos e disse que o fez porque não gosta dos membros da organização paramilitar privada. Também alegou que estava bêbado quando abriu fogo.

O jornal independente The Moscow Times identificou o militar como sendo Roman Venevitin, tenente-coronel da 72ª Brigada de Fuzileiros Motorizados Independente das Forças Terrestres Russas. “Eu agi em estado de intoxicação alcoólica por animosidade pessoal”, disse ele.

Combatentes do Wagner Group posam com jornalista russo (Foto: reprodução/VK)

Ao comentar o episódio, Prigozhin aproveitou para fortalecer as críticas às forças armadas russas, dizendo que os militares chegaram a bombardear propositalmente estradas que seriam usadas pelo Wagner para se retirar da cidade de Bakhmut, onde os mercenários e as forças armadas regulares russas travaram nos últimos meses violentos combates contra as tropas da Ucrânia.

Antes de as recentes desavenças entre mercenários e soldados virem a público, Prigozhin já havia lançado uma série de críticas contra as forças armadas russas, com foco sobretudo em figuras de alta patente. A reclamação principal dizia respeito à escassez de munição entre os mercenários, segundo ele por culpa do Ministério da Defesa.

O empresário chegou a ameaçar tirar o Wagner Group de Bakhmut, cuja conquista ele alega ter sido mérito exclusivo de seus mercenários. Foi então advertido de que tal iniciativa configuraria deserção e, consequentemente, traição. Voltou atrás, e os combatentes seguiram no campo de batalhas até a conquista do território. Mas nem por isso ele abaixou o tom.

O empresário devolveu a acusação de traição, direcionando-a aos generais russos pela suposta falta de disposição que têm exibido para equipar os mercenários. Prigozhin foi além em seus ataque furiosos e jogou no ar uma pergunta cuja interpretação não dá muita margem a dúvida: “E se o avô for um verdadeiro idiota?”.

De acordo com Vlad Mykhnenko, especialista na transformação pós-comunista da Europa Oriental e da ex-União Soviética pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, não há o que se discutir no que tange à interpretação da frase. “Obviamente, ‘avô’ é uma referência a Putin”, disse ele à revista Newsweek.

De quebra, o empresário acusou soldados regulares do exército da Rússia de fazerem justamente aquilo que foi advertido a evitar. Segundo ele, muitos militares deixaram o campo de batalhas em Bakhmut durante os confrontos, o que configuraria deserção.

Agora, aparentemente, os desacertos entre Prigozhin e Putin afetaram os combatentes. O soldado que confessou ter atirado contra os mercenários relatou mais uma desavença. Segundo ele, um grupo de entre dez e 12 soldados regulares teria desarmado e detido mercenários do Wagner, sem deixar claro se este episódio teve alguma relação com os disparos contra o veículo.

As denúncias feitas pelo soldado e reproduzidas por Prigozhin carecem de verificação independente e não foram confirmadas oficialmente pelo Kremlin. De toda forma, elas se somam aos inúmeros episódios recentes que fortalecem a ideia de que o distanciamento é cada vez maior entre o Wagner Group e as forças armadas, bem como entre o chefe dos mercenários e Putin.

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