Documento diplomático anônimo sugere acordo entre Sérvia e Kosovo

Publicação delineia possíveis termos de acordo entre os dois países, que disputam território kosovar, até 2022

Um suposto documento diplomático anônimo que circulou na última semana de abril está agitando os Bálcãs ocidentais ao sugerir a aproximação de um acordo entre Sérvia e Kosovo, disse a RFE (Radio Free Europe).

A publicação circulou na mídia kosovar e teria sido escrita por diplomatas da Alemanha e da França. O material delineia os termos de um possível acordo final para resolver a disputa de Belgrado com o Kosovo, que declarou independência há 13 anos. A negociação terminaria em fevereiro de 2022 e ensejaria a criação de um distrito regional no norte do Kosovo, dominado pelos sérvios.

A questão é espinhosa: Sérvia e Kosovo mantêm péssimas relações desde a guerra travada em 1998 e que separou o território. Após sua declaração unilateral de independência de Belgrado, em 2008, Kosovo hoje tem o reconhecimento dos EUA e União Europeia. Sérvia e Rússia ainda reconhecem o território como sérvio.

Documento anônimo agita os Bálcãs ao sugerir acordo entre Sérvia e Kosovo
O primeiro-ministro da Sérvia, Aleksandar Vucic, cumprimenta o ex-premiê de Kosovo, Isa Mustafa, em tentativa de aproximação pela União Europeia, Bruxelas, fevereiro de 2017 (Foto: Divulgação/European External Action Service)

Paris e Berlim negaram terem escrito o documento, mas não descartaram sua existência – o que alimentou a especulação de que o material seja verdadeiro. A publicação, conhecida no meio diplomático como “non-paper”, difere de documentos de discussão oficiais usados por diplomatas em suas pautas cotidianas.

Esse tipo de documento apócrifo é visto com mais frequência nos corredores de Bruxelas, usado para estimular discussões dentro da UE (União Europeia) de forma informal. Em suma, não há nos materiais qualquer assinatura ou aprovação prévia.

A forma com que são escritos, porém, dificilmente traz abordagens “fora da curva”, como é o caso. Além disso, são textos com “autores ocultos” – mesmo que não sejam assinados, há marcas que revelam quem os escreveu. O material indica, porém, que “algo parece estar se movendo na região” – seja para testar novas ideias ou para aprofundar a tensão entre os dois territórios.

Redesenho da ex-Iugoslávia

Outro “non-paper” que gerou discussão nos Bálcãs propõe o redesenho das fronteiras da ex-Iugoslávia mais a Albânia, levando em conta “linhas étnicas”. O documento foi atribuído ao primeiro-ministro da Eslovênia, Janez Jansa, e lançado pela primeira vez em um site de notícias da Bósnia no início de abril.

Jansa teria entregue o material ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. O primeiro-ministro não negou a existência do documento, mas afirmou que não o escreveu ou enviou. Michel, por sua vez, não confirmou nem negou que tenha recebido a publicação.

O documento que circula nos Bálcãs, porém, não mantém o discurso cauteloso usado em Bruxelas. O mais provável é que a especulação vise minar o governo esloveno antes de assumir presidência da UE, no final do ano. Em ambos os documentos, porém, não há qualquer título, datas e ninguém da UE parece ter cópias.

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