Economia russa sob pressão: risco de falências cresce com juros altos e sanções ocidentais

Metade das empresas do país tem dívidas com juros variáveis, dificultando o refinanciamento em um cenário de custos crescentes

A economia russa enfrenta uma crescente onda de incertezas devido ao aumento expressivo no risco de falências empresariais, impulsionado pela manutenção de uma taxa de juros recorde. De acordo com um relatório do Centro de Análise Macroeconômica e Previsão de Curto Prazo (CMASF), instituição próxima ao governo russo, cerca de 20% das empresas de manufatura estão destinando dois terços de seus lucros antes dos impostos para o pagamento de dívidas. Esse dado evidencia o impacto severo da taxa de juros de 21% imposta pelo Banco Central da Rússia (CBR) como medida para conter a inflação. As informações são da Newsweek.

O economista Vasily Astrov, do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais de Viena, alertou que existe um “perigo realista” de um aumento significativo nas falências no país. Ele explicou à Newsweek que metade das empresas russas possui dívidas com taxas de juros variáveis, o que agrava as dificuldades de refinanciamento em um cenário de custos crescentes.

Segundo Astrov, com uma taxa real de juros em 10,5%, baseada na inflação de dezembro, é incerto como a economia pode crescer sob tais condições. Ele acrescentou que o CBR pode ser forçado a reduzir a taxa de juros em um futuro próximo, mesmo que a inflação continue elevada.

Praça Vermelha, em Moscou, Rússia, durante o inverno (Foto: Vyacheslav Argenberg/WikiCommons)

O relatório do CMASF também aponta que houve um aumento de 20% para 37% no número de empresas que enfrentam inadimplência de seus parceiros comerciais por bens e serviços fornecidos. Muitos negócios estão optando por investir em bancos com altas taxas de juros ou em títulos de baixo risco, em vez de pagar fornecedores. Além disso, novos empréstimos para setores-chave da economia caíram em até 50% nos dois últimos meses de 2024, dificultando ainda mais o acesso ao crédito para as empresas.

Setores como mineração de carvão, construção de estradas, shopping centers, companhias aéreas e empresas de tecnologia enfrentam os efeitos combinados das sanções internacionais, da queda nas receitas de exportação e do aumento dos custos de empréstimos. Embora o CMASF tenha mencionado um crescimento do PIB de até 4%, o relatório enfatiza que esse dado mascara a estagnação na produção real.

“Muito dependerá de quanto tempo as taxas de juros altas persistirem. Quanto mais tempo isso durar, maior será o impacto em termos de inadimplência de crédito”, afirmou Astrov. Ele reforçou que a manutenção de condições monetárias tão restritivas pode levar a uma turbulência econômica ainda maior, o que obrigaria o CBR a flexibilizar sua meta de inflação em busca de estabilidade financeira.

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