Aumento dos casos de traição leva Rússia a vigiar acadêmicos com contatos estrangeiros

Prática para coibir atos de espionagem, que era comum na era soviética, ainda persiste nos tempos atuais

Na quinta-feira (16), o canal independente investigativo Mozhem Obyasnit divulgou que autoridades russas começaram a coletar dados pessoais de acadêmicos locais que mantêm contato com estrangeiros. A medida foi comparada à prática da extinta União Soviética em meio à Guerra Fria, período em que contatos entre russos e pessoas de fora do bloco socialista eram rigorosamente monitorados pelo Estado, segundo informações do site The Moscow Times.

A ação do Kremlin coincide com o aumento alarmante, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), nas prisões por traição e espionagem na Rússia desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

A noticia veio à tona no mesmo dia em que o Ministério da Educação e Ciência enviou uma carta às universidades, conforme relatado pelo Mozhem Obyasnit, exigindo o preenchimento de formulários para estudantes e acadêmicos que participaram de eventos científicos internacionais em 2023.

Acadêmicos no campus da Universidade Estadual Lomonosov de Moscou (Foto: WikiCommons)

Um formulário anexo solicita informações detalhadas sobre quem esteve presente em congressos internacionais e eventos de exposição organizados ou envolvendo instituições acadêmicas ou científicas russas.

Após confirmar a autenticidade da carta, o Mozhem Obyasnit ouviu um funcionário da pasta. Embora o Ministério não tenha se pronunciado oficialmente sobre o processo de coleta de dados mencionado, a fonte, sob condição de anonimato, afirmou que já enfrentou “tarefas semelhantes no passado”, mas destacou que esta é a primeira vez que lida com listas desta magnitude.

Segundo estima o funcionário, o Ministério da Educação e Ciência da Rússia pode vir a reunir informações de “dezenas de milhares, se não centenas de milhares” de acadêmicos até o prazo fixado, de 22 de dezembro.

Além de restringir “contatos inadequados” e viagens internacionais, a lista ministerial poderia servir como meio de recrutamento de agentes pelos serviços de inteligência russos, acrescentou o informante.

Ele confirmou que essa prática soviética, onde acadêmicos são enviados ao exterior para envolvimento em trabalhos secretos ilegais, seja como estudantes ou imediatamente após, ainda se mantém ativa.

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