Energia e diplomacia: UE considera volta do gás russo em acordo com Moscou

Bloco discute retomar importações como parte de um acordo para encerrar a guerra na Ucrânia, mas países se dividem sobre a ideia

Autoridades europeias estão discutindo a possibilidade de retomar a importação de gás russo como parte de um eventual acordo para encerrar a guerra na Ucrânia. A proposta tem gerado forte divisão dentro da União Europeia (UE), com defensores argumentando que a medida ajudaria a reduzir os preços da energia no continente e incentivaria Moscou a negociar um cessar-fogo duradouro. As informações são do Financial Times.

A ideia conta com o apoio de algumas autoridades da Alemanha e da Hungria, além de outras capitais que veem a retomada das importações como uma solução para os altos custos energéticos. “Há pressão de alguns grandes estados-membros sobre os preços da energia e esta é uma maneira de reduzi-los, é claro”, afirmou um funcionário europeu.

Antes da guerra, o gás russo transportado por gasodutos representava cerca de 40% do total consumido pela UE, sendo a Alemanha o principal importador. No entanto, desde o início do conflito, o bloco adotou medidas para reduzir a dependência da energia russa, resultando na queda dessa participação para cerca de 10% em 2024. Em janeiro, a situação se agravou com o término de um contrato de trânsito que permitia o transporte de gás russo via Ucrânia. Atualmente, o único gasoduto ativo levando gás russo à Europa é o TurkStream, que abastece a Hungria com cerca de 7,5 bilhões de metros cúbicos anuais.

Estatal russa Gazprom (Foto: Gazprom/Reprodução Twitter)

A possibilidade de reiniciar as importações tem causado forte reação entre países do Leste Europeu e em Bruxelas. “É loucura”, disse um diplomata europeu. “Quão estúpidos poderíamos ser para sequer pensar nisso como uma opção?”. Muitos desses países passaram os últimos anos desenvolvendo alternativas energéticas para reduzir sua dependência da Rússia.

As discussões ocorrem em meio à pressão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que tem exigido o fim da guerra “em breve” e ameaçado a UE com tarifas caso o bloco não aumente suas compras de gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos. O gás americano, no entanto, tem custo mais alto do que o fornecido por gasodutos russos, gerando resistência por parte da indústria europeia, que enfrenta desafios com os altos preços da energia.

A meta oficial da UE é eliminar completamente os combustíveis fósseis russos até 2027, com um plano detalhado a ser apresentado pelo comissário de energia Dan Jørgensen em março. No entanto, as dificuldades enfrentadas pela indústria pesada europeia e a necessidade de reduzir custos energéticos colocam desafios para o cumprimento desse objetivo.

Enquanto a Comissão Europeia busca acordos de longo prazo com exportadores de GNL nos EUA, governos como os da Hungria e da Eslováquia fazem lobby para pressionar a Ucrânia a retomar o trânsito de gás. “No final, todos querem custos de energia mais baixos”, afirmou um alto funcionário da UE.

O governo ucraniano ainda não se manifestou oficialmente sobre a questão. O presidente Volodymyr Zelensky, porém, reforçou recentemente que soluções diplomáticas são preferíveis para minimizar baixas e perdas na guerra. O debate sobre o fornecimento de gás russo segue sendo um ponto sensível dentro da estratégia energética e política do bloco europeu.

Tags: