Estados Unidos sancionam o Wagner Group e instam outros países a seguir o exemplo

Empresa militar privada russa foi designada por Washington como uma "organização criminosa transnacional significativa"

Os EUA anunciaram na sexta-feira (20) sanções ao Wagner Group, organização paramilitar russa envolvida ativamente na guerra contra a Ucrânia. As tropas mercenárias do oligarca Evgeny Prigozhin, tido como principal financiador da facção e um velho aliado do presidente Vladimir Putin, foram designadas pela Casa Branca como “organização criminosa transnacional”. As informações são da rede VOA News (Voice of America).

Com a medida aplicada pelo Departamento do Tesouro, o Wagner Group teve congelados seus ativos nos EUA, e cidadãos norte-americanos ficam proibidos de fornecer fundos, bens ou serviços à organização, que atingiu um contingente de 50 mil combatentes no conflito no leste europeu – 80% dos membros foram retirados da prisão em troca de perdão a seus crimes.

“Já estávamos sancionando a Rússia em geral, e algumas dessas sanções e controles de exportação que conhecemos também tiveram um efeito tangencial em empresas militares privadas como o Wagner. Mas isso é realmente direcionado ao grupo, especificamente”, disse John Kirby, coordenador do Conselho de Segurança Nacional para Comunicações Estratégicas.

Integrantes da organização paramilitar russa Wagner Group (Foto: VK/reprodução)

Kirby disse que Washington está instando outros países para que façam o mesmo contra o grupo chefiado por Prigozhin, que de parceiro de primeira ordem passou a ser crítico das forças armadas russas, gerando desconforto para o chefe do Kremlin. Nos últimos anos, o Wagner saiu da obscuridade e aumentou consideravelmente sua atuação na Síria, Líbia, Sudão, República Centro-Africana, Moçambique e Mali. O grupo é acusado de violar direitos humanos por onde passa.

Em resposta às penalidades, Prigozhin endereçou uma carta à Casa Branca perguntando quais teria sido as infrações cometidas pela sua organização, repercutiu a revista Newsweek.

“Você poderia esclarecer qual crime foi cometido pelo Wagner”, escreveu o oligarca em inglês e russo em uma curta mensagem compartilhada em seu canal do Telegram

Kirby também disse na sexta que a inteligência dos EUA mostra que há uma rivalidade entre o Wagner Group e o Ministério da Defesa da Rússia.

“Wagner está se tornando um centro de poder rival para os militares russos e outros ministérios russos”, disse Kirby, destacando que Prigozhin vem disparando críticas públicas a generais e oficiais de defesa russos por seu desempenho no campo de batalha.

Recentemente, os mercenários reivindicaram os créditos pela tomada de Soledar, uma cidade estratégica ucraniana abundante em riquezas naturais na região de Donetsk, parcialmente ocupada pelas forças da Rússia. Prigozhin usou o feito do seu grupo de mercenários para desacreditar o exército russo. Putin rejeitou as alegações de Prigozhin de que as forças do Wagner Group eram os responsáveis pela conquista, segundo relatório do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês) divulgado semana passada.

Em meio ao fortalecimento das forças mercenárias, Washington divulgou imagens antes sigilosas do que seriam vagões russos transportando foguetes de infantaria e mísseis da Coreia do Norte em novembro para uso do Wagner. O governo Biden enviou as imagens ao painel do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) encarregado de aplicar as sanções a Pyongyang, de modo a pressionar por uma resposta à alegada violação das resoluções do comitê sobre transferências de armas.

“Os norte-coreanos mentiram descaradamente sobre seu apoio à Rússia”, disse Kirby, acrescentando que os EUA querem “apresentar evidências demonstráveis” do apoio do líder norte-coreano Kim Jong-un a Putin.

Segundo o ISW, o Wagner Group parece estar “lutando para se apresentar como uma estrutura militar paralela eficaz, provando assim cada vez mais ser uma entidade paramilitar parasitária”.

A organização, que há até pouco tempo era envolta em mistério, resolveu definitivamente tornar sua existência pública no ano passado. Tanto que, em novembro, inaugurou a referida base central de operações em São Petesburgo, a segunda maior cidade da Rússia, que servirá também como centro para desenvolvimento de novas tecnologias militares a serviço do país.

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