Evolução dos mísseis norte-coreanos na Ucrânia amplia ameaça à segurança global, dizem analistas

Precisão aprimorada de armamentos usados pela Rússia levanta preocupações sobre testes militares em campo de batalha real

Os ataques com mísseis balísticos norte-coreanos, disparados pela Rússia contra a Ucrânia desde o final de 2023, revelam um dado alarmante: a precisão dos projéteis melhorou de forma significativa. O que antes parecia um apoio limitado agora se transforma em uma evidência de que a Coreia do Norte está utilizando o conflito para aperfeiçoar sua tecnologia militar. As informações foram confirmadas por duas fontes do alto escalão ucraniano à agência Reuters.

Os mísseis, que no início da guerra apresentavam margens de erro de até três quilômetros, agora atingem alvos com uma precisão entre 50 e cem metros. Para analistas militares, isso não é apenas uma questão técnica — é um indicativo de que Pyongyang está ajustando seu arsenal com base em dados coletados diretamente do campo de batalha.

Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, e um de seus lançadores de mísseis (Foto: Divulgação/kcnawatch.org)

Essa evolução tecnológica preocupa especialistas. “Isso pode ter um impacto importante na estabilidade da região e do mundo”, alerta Yang Uk, do Instituto Asan de Estudos de Políticas, em Seul. O receio é o de que a experiência adquirida na Ucrânia possa ser usada para ameaçar países como Coreia do Sul, Japão e até os Estados Unidos, além de potencialmente abastecer estados instáveis e grupos armados.

Embora Moscou e Pyongyang neguem acordos de armamento, a presença de mísseis norte-coreanos nos ataques russos não deixa dúvidas sobre a colaboração crescente entre os dois países. Desde o final do ano passado, a Rússia disparou cerca de cem mísseis K-23, K-23A e K-24 contra a Ucrânia, que aponta também o uso de milhões de projéteis de artilharia e até de soldados norte-coreanos por Moscou.

As razões para o aumento da precisão ainda não estão totalmente claras. Podem estar ligadas à instalação de sistemas de navegação mais avançados ou ao uso de novos mecanismos de controle de voo. “Enquanto fabricam mísseis e recebem feedback do cliente, o exército russo, ganham mais experiência para torná-los mais confiáveis”, explica Yang.

Além do fator técnico, o impacto político é inevitável. O aprofundamento da aliança entre Rússia e Coreia do Norte, consolidado por um tratado de parceria estratégica assinado em 2023, desafia diretamente as normas internacionais de controle de armas. Autoridades dos Estados Unidos e da Coreia do Sul já expressaram preocupação com o fortalecimento desse eixo militar.

Outro aspecto relevante é o potencial de exportação dessa tecnologia aprimorada. A combinação de maior precisão e alcance de até 800 quilômetros com as ogivas de uma tonelada torna esses mísseis mais letais que modelos russos tradicionais, como o Iskander-M.

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