Ex-agente da KGB não se convence com perdão de Putin e prevê que ele tentará ‘eliminar’ Prigozhin

Sergei Zhirnov vê o chefe do Wagner Group como maior inimigo do presidente russo, que fará de tudo para o empresário desaparecer

O empresário Evgeny Prigozhin recebeu uma punição surpreendentemente leve após liderar o motim na Rússia no final de semana. Forçado a entregar a Moscou o controle do Wagner Group, uma organização paramilitar privada com enorme poder de fogo e forte influência em diversos países do mundo, também aceitou se exilar em Belarus. Entretanto, a gentileza do presidente Vladimir Putin, que inclusive encerrou a ação criminal contra o líder golpista, não convence o ex-agente da KGB Sergei Zhirnov, que projeta, em um futuro próximo, destino bem menos agradável para o ex-aliado do presidente russo.

Em entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia, Zhirnov, que atualmente vive refugiado na França, disse que é uma questão de tempo até Putin aplicar a punição máxima ao inimigo. Sobretudo porque o agora ex-líder do Wagner Group tornou-se uma ameaça política com vistas à eleição presidencial do próximo ano.

O ex-espião fala com conhecimento de causa, pois chegou a ser entrevistado pelo presidente russo em 1980, quando Putin também era um agente da KGB. Anos depois, os dois se reencontraram no Instituto Andropov, considerado a universidade de espionagem russa. 

O presidente Vladimir Putin durante conferência de imprensa em Moscou (Foto: Kremlin.ru)

“Putin fará tudo o que puder para fazer Prigozhin desaparecer antes de março do próximo ano”, disse o ex-espião, segundo quem Putin é um homem fraco e amedrontado, mas que faz o possível para projetar o oposto. Partindo dessa premissa, existe sim o risco de o empresário “ser eliminado, principalmente agora, porque tentou derrubar Putin” e tornou-se “o inimigo mais perigoso” do presidente da Rússia.

De acordo com Zhirnov, Putin passou a ser considerado um “perdedor”, enquanto Pirgozhin já havia ganhado a simpatia de muitos russos antes mesmo do motim. “Prigozhin é um populista. Para resumir, eu diria que é um Trump russo, um falastrão que usa uma linguagem bem floreada, direta, que explica a verdade”, analisou.

Com vistas ao pleito do próximo ano, o ex-KGB não tem dúvidas ao apontar Prigozhin como favorito caso consiga se candidatar. “As pessoas que estão muito à direita, extrema-direita, os nacionalistas russos que estão criticando Putin hoje, estão felizes com Prigozhin. Ele tem mais chances do que Putin de vencer as eleições. Se houver eleições no próximo ano e Prigozhin concorrer contra Putin, Prigozhin vencerá.”

A projeção de Zhirnov é compartilhada pelo almirante aposentado James Stavridis, atual vice-presidente de assuntos globais da empresa de investimentos Carlyle Group. “A filosofia de Game of Thrones se aplica aqui: se você for atrás do rei, é melhor matar o rei”, disse ele à rede Fox News, referindo-se ao famoso seriado da HBO

“Prigozhin não fez isso”, prosseguiu Stavridis, lembrando que o ex-chefe do Wagner não conseguiu derrotar Putin e teve que abrir mão de seu grupo de mercenários. “Ele agora vai ficar isolado dos 35 mil combatentes que o protegeram. Ele é como uma cobra cuja cabeça foi cortada de seu corpo.”

Prigozhin quebra o silêncio

O paradeiro de Prigozhin é desconhecido desde o fim do motim, no sábado (24). Embora tenha aceitado se exilar em Belarus, não deixou claro se já viajou para o país governado por Alexander Lukashenko. No entanto, o empresário quebrou o silêncio na segunda-feira (26), e as primeiras declarações mostram que ele continua a desafiar o poder de Putin, embora tenha voltado a dizer que não tentou dar um golpe.

“Não tínhamos o objetivo de derrubar o regime existente e o governo legalmente eleito”, disse ele em mensagem de áudio divulgada no Telegram, cujo conteúdo foi parcialmente reproduzido pela rede CBS News. “O objetivo da marcha era evitar a destruição de Wagner”, completou.

Ele também exaltou o sucesso inicial do motim e comentou os ataques que seus mercenários fizeram a helicópteros das forças armadas russas. “Durante a noite, caminhamos 780 quilômetros, duzentos e poucos quilômetros faltaram para Moscou”, afirmou. “Lamentamos ter sido forçados a atacar aeronaves, mas essas aeronaves lançaram bombas e lançaram ataques com mísseis.”

Quanto à decisão de interromper a marcha, voltou a dizer que a decisão foi tomada para evitar ataques a cidadãos russos. “Paramos no momento em que o destacamento, que se aproximava de Moscou, desdobrou sua artilharia, fez um reconhecimento da área e era óbvio que naquele momento muito sangue seria derramado. Sentimos que demonstrar o que estávamos indo fazer foi suficiente.”

Tags: