Ex-fuzileiro britânico acusado de espionagem para Hong Kong é encontrado morto em parque

Matthew Trickett trabalhava como oficial de imigração no Ministério do Interior e foi acusado de vigiar ativistas pró-democracia

Um ex-membro da Marinha do Reino Unido, que estaria ajudando o serviço de inteligência de Hong Kong, foi encontrado morto no último fim de semana sob circunstâncias desconhecidas, disse a polícia local na terça-feira (21). Matthew Trickett, de 37 anos, que trabalhava como oficial de imigração no Ministério do Interior, havia sido acusado sob a recém-implementada Lei de Segurança Nacional, tendo comparecido ao tribunal na semana passada. As informações são da rede BBC.

No domingo (19), Trickett foi descoberto por um pedestre em um parque em Maidenhead, no condado de Berkshire, informou a Polícia do Vale do Tâmisa. As autoridades estão tratando sua morte como “inexplicável” e planejam realizar uma autópsia em breve para determinar a causa.

Junto com outros dois homens, Trickett foi detido e liberado sob fiança em uma audiência em 13 de maio. A lei, sancionada no ano anterior, foi criada em resposta a preocupações sobre ameaças de intervenções estrangeiras e espionagem, e tem como objetivo combater a ação dos serviços de inteligência de nações hostis.

Grenfell Park, no condado de Maidenhead, onde Matthew Trickett foi encontrado morto (Foto: WikiCommons)

Segundo a imprensa britânica, Trickett, além de ex-fuzileiro naval britânico e ex-funcionário da Força de Fronteira do Reino Unido, foi diretor da MTR Consultancy, uma empresa de segurança fundada em 2021.

Ele, junto com Chi Leung Wai e Chung Biu Yuen, foi acusado de “colaborar com um serviço de inteligência estrangeiro e de interferência estrangeira” ao monitorar, vigiar e perseguir ativistas pró-democracia no Reino Unido. A polícia anteriormente confirmou que o “serviço de inteligência estrangeiro” em questão era de Hong Kong. Os três homens compareceram ao tribunal há menos de dez dias para confirmar suas identidades.

As autoridades honconguesas confirmaram que Yuen ocupava o cargo de gerente do Escritório Econômico e Comercial de Hong Kong em Londres. Wai, de dupla nacionalidade chinesa e britânica, residente em Staines, Surrey, trabalha na Força de Fronteira em Heathrow. Além disso, atua como policial especial na cidade de Londres e é fundador de uma empresa de segurança privada.

A polícia está investigando se outras pessoas estiveram envolvidas na morte de Trickett. Quando a polícia diz que a morte é “inexplicável”, significa que ainda não encontraram evidências que apontem para suspeitas ou homicídio. Durante uma audiência anterior, foi mencionado que o ex-fuzileiro tentou tirar a própria vida enquanto estava sob custódia e fez ameaças de suicídio.

O advogado de Trickett, Julian Hayes, afirmou que estava oferecendo apoio à família de seu cliente, segundo relatou o jornal The Guardian. Ele se absteve de fazer comentários adicionais devido às investigações em curso.

“A morte está sendo tratada como inexplicável pela polícia e novas investigações ainda estão em andamento”, disse.

A família de Trickett manifestou seu luto pela perda de um ente querido e pediu “privacidade durante este momento difícil”, solicitando que a imprensa “respeite sua dor” e se abstenha de interferir.

Espionagem em alta

A relação entre Londres e Beijing tem sido marcada por crescentes preocupações com espionagem e interferência chinesa inclusive dentro do Parlamento britânico. Isso levou o governo do Reino Unido a debater a adoção de medidas mais duras para mitigar esses riscos, entre as quais está a adoção da Lei de Segurança Nacional.

No ano passado, houve um alerta incomum sobre interferência parlamentar relacionada às atividades de Christine Ching Kui Lee, uma advogada baseada em Londres que foi acusada de “estabelecer ligações” para o Partido Comunista Chinês (PCC) com parlamentares britânicos.

O MI5, serviço de inteligência doméstica do Reino Unido, alegou que a advogada estava envolvida em atividades de interferência política, incluindo a doação de fundos para apoiar o trabalho de legisladores cuja atuação junto ao governo poderia trazer benefícios à China.

Outros países, como Austrália e Canadá, também enfrentaram recentes alegações de espionagem ou interferência chinesa na política, embora o governo chinês tenha negado qualquer envolvimento nesse tipo de atividade.

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