Êxodo ocidental tende a deteriorar as redes móveis na Rússia, projetam analistas

Nokia e Ericsson deixarão o país no final do ano, e cidadãos devem ter problemas com seus telefones e com a internet

Como já haviam anunciado em abril, as gigantes das telecomunicações Nokia e Ericsson estão de malas prontas para deixar a Rússia, onde encerrarão as operações neste fim de ano. E, quando baterem a porta e apagarem as luzes, as redes móveis do país sofrerão uma deterioração, complicando triviais como fazer uma simples ligação telefônica. A previsão foi feita por executivos e outras fontes do setor, segundo informou a agência Reuters.

A debandada causará impactos a longo prazo na vida do cidadão russo, desde um aumento das chamadas que não conectam até uma menor velocidade nos downloads. As companhias representam cerca de 50% do mercado de equipamentos de telecomunicações no país, onde possuem infraestrutura para executar todo tipo de funções do setor, desde as antenas até o hardware responsável por conectar a fibra ótica.

Após a retirada da Huawei, que está fechando sua unidade de negócios corporativos na Rússia, afetando 2 mil empregos, de acordo com uma reportagem do jornal russo Kommersant citada pelo site South China Morning Post, a saída da Nokia e da Ericsson deve dificultar ainda mais o cotidiano local. Isso porque os russos já são afetados pelas sanções aplicadas por outras nações depois que Moscou invadiu a Ucrânia.

Ericsson anunciou a suspensão de suas atividades na Rússia (Foto: Kārlis Dambrāns/Flickr)

Contribuiu para a decisão das duas empresas justamente a série de sanções impostas a Moscou pelos países ocidentais. Entre outros efeitos, tais sanções restringem a importação de itens de tecnologia avançada, o que levaria a sérias limitações na atuação das telecoms.

Nesta semana, o ministro russo das Comunicações disse que quatro operadoras de telecomunicações iriam assinar contratos no mesmo âmbito e gastariam mais de 100 milhões de rublos (7,2 milhões de reais) em produção de equipamentos.

Por que isso importa?

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, mais de mil empresas ocidentais deixaram de operar em território russo. São companhias que evitam o risco de desobedecer as sanções ocidentais, ou mesmo a reação negativa da opinião pública caso continuem a lucrar no mercado russo. O levantamento foi feito pela Universidade de Yale, nos EUA.

Um caso emblemático é o do McDonald’s, que vendeu seu negócio no país a um empresário russo. Ao fim do ano passado, a rede tinha 847 lojas na Russia. Diferente do que ocorre no resto do mundo, onde habitualmente atua no sistema de franquias, 84% das lojas russas eram operadas pela própria companhia. Somado ao faturamento na Ucrânia, a operação respondia por 9% da receita global da empresa.

Uma das decisões mais impactantes foi o fim dos serviços das companhias de cartões de crédito Visa e Mastercard. Assim, cartões dessas bandeiras emitidos na Rússia deixaram de ser aceitos, e houve inclusive casos de turistas impedidos de sair da Tailândia por problemas com voos cancelados e cartões bloqueados.

A Rússia também foi excluída do sistema global de pagamentos SWIFT, que movimenta dinheiro entre bancos de mais de 200 países. A alternativa do país é o Mir, uma versão local desenvolvida em 2014 e ativa em um grupo restrito de países.

Dentro da Rússia, o Mir garante que os cidadãos locais não tenham problemas para realizar seus pagamentos corriqueiros. Para pagamentos no exterior, porém, o desafio é cada vez maior, vez que os EUA têm ampliado as sanções. Foram suspensas inclusive as operações da bandeira chinesa de cartões de crédito Union Pay, até então uma opção global para o turista russo.

O próprio banco central da Rússia admitiu em setembro que tem enfrentado “dificuldades” para expandir o sistema Mir. E a tendência é a de que ele se torne cada vez mais restrito, conforme o Tesouro norte-americano aumenta a pressão inclusive sobre os países na esfera de influência do Kremlin.

Tags: