Finlândia assume papel ativo na Otan e vira alvo de represálias da Rússia

País escandinavo, que apoiou os ataques ucranianos em território russo, relata a invasão de seu espaço aéreo por aeronaves inimigas

A invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, levou a Finlândia a abandonar décadas de não alinhamento militar e aderir à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em abril de 2023. Mais de um ano depois, o país vem desempenhando papel ativo na aliança, fornecendo tropas para os exercícios Steadfast Defender 24, intensificando a participação no policiamento aéreo do Báltico e, mais recentemente, dando aval aos ataques ucranianos em solo russo. Tais ações, porém, têm seu preço, e o país tornou-se alvo frequente das represálias de Moscou, consciente de que a adesão de Helsinque fortalece consideravelmente o bloco e assegura uma posição estratégica em caso de conflito.

Um sinal da insatisfação russa foi registrado nesta semana, com a Guarda de Fronteira da Finlândia anunciando a abertura de uma investigação para apurar a presença de aeronaves das Forças Armadas da Rússia no espaço aéreo finlandês. O episodio teria ocorrido na segunda-feira (10).

“Suspeita-se que a violação da área tenha sido cometida por uma divisão de quatro aviões, que incluía dois bombardeiros e duas aeronaves de caça. No seu nível mais profundo, a violação territorial estendeu-se por 2,5 quilômetros até o lado finlandês”, disse a entidade estatal em seu site nesta sexta (14).

A presença dos aviões militares se segue ao apoio manifestado pela ministra das Relações Exteriores da Finlândia, Elina Valtonen, aos ataques ucranianos dentro da Rússia com armas ocidentais. De acordo com o site Politico, ela afirmou que Kiev “tem o direito de atacar alvos do lado do agressor se forem alvos militares”, ratificando a posição dos protagonistas da Otan, Alemanha, Reino Unido, França e EUA.

Militar exibe em seu uniforme a bandeira da Finlândia (Foto: Santeri Viinamäki/WikiCommons)

Segundo a chefe da diplomacia finlandesa, Moscou vinha usando em sua estratégia militar o veto antes imposto à Ucrânia por seus próprios aliados, que temiam uma escalada caso a Rússia fosse atingida como munição ocidental. “Penso que é um argumento válido que a Rússia esteja colocando intencionalmente algumas armas atrás da fronteira, para poder talvez evitar um contra-ataque. Precisamos levar isso em conta”, declarou.

A transgressão dos jatos, porém, não pode ser atribuída somente à manifestação da ministra. Inclusive, a invasão territorial não é novidade, com um episódio semelhante registrado em agosto de 2022, segundo o jornal The Moscow Times. “Levamos a sério esta suspeita de violação territorial”, disse nesta semana o ministro da Defesa Antti Hakkanen.

Outro episódio recente certamente contribuiu para irritar Moscou. Na terça-feira (11), Helsinque deslocou seus primeiros jatos F-18 para uma base da Otan, na Romênia, país que faz fronteira com a Ucrânia. Segundo a agência Reuters, o objetivo do país escandinavo ao enviar as aeronaves é acelerar a integração à aliança, na qual tem posição considerada estratégica devido à proximidade com a Rússia.

A Finlândia compartilha uma linha divisória de 1,3 mil quilômetros com o território russo, e sua adesão à Otan praticamente dobrou o tamanho da fronteira entre a aliança e a Rússia. De acordo com o think tank Wilson Center, também incomoda Moscou o reforço militar fornecido pelas Forças Armadas finlandesas, que têm cerca de 280 mil soldados em tempos de guerra, bem como 900 mil cidadãos com algum tipo de treinamento militar.

“Em termos históricos, a Finlândia tem uma proporção de combatentes per capita equivalente à da antiga Esparta”, afirmou Jason C. Moyer, analista do Wilson Center, em um artigo tratando do tema publicado em abril, para lembrar a marca de um ano desde a adesão finlandesa à Otan.

Ainda de acordo com Moyer, a “decisão histórica de aderir à aliança reflete uma profunda preocupação com as ações agressivas da Rússia contra os seus vizinhos”. Ele, então, concluiu: “A Finlândia, juntamente com a Suécia, tem Forças Armadas extremamente capazes que resultam numa aliança mais segura e protegida.”

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