A capacidade de defesa da Alemanha voltou ao centro do debate político após especialistas militares alertarem que o país conseguiria resistir por apenas alguns dias em caso de ataque. O tema ganha ainda mais relevância com a aproximação das eleições federais, marcadas para 23 de fevereiro de 2025. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).
O alerta expõe as consequências de décadas de austeridade fiscal que afetaram a Bundeswehr, as Forças Armadas alemãs. O chanceler Olaf Scholz defende que a situação está melhorando, graças à injeção de 100 bilhões de euros em um fundo especial criado após o início da guerra da Ucrânia, em 2022. Segundo ele, esse aporte foi “um grande sucesso”, e sua gestão pretende manter o ritmo de investimentos sem cortar benefícios sociais.
Em 2024, o orçamento de defesa da Alemanha ficou em pouco menos de 52 bilhões de euros, somado a 20 bilhões de euros do fundo especial. O país também assumiu gastos adicionais com o apoio militar à Ucrânia, totalizando 90,6 bilhões de euros em despesas de defesa, o que permitiu atingir a meta da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de destinar 2% do PIB à área, um feito inédito nos últimos anos.

O ministro da Defesa, Boris Pistorius, afirmou que o fundo especial estará totalmente comprometido até o final de 2025, com desembolsos previstos até 2027 para financiar sistemas de armas de alto custo, como caças F-35A, helicópteros de combate, veículos blindados, aeronaves de vigilância marítima, fragatas e sistemas de defesa antiaérea Patriot.
No entanto, permanece a dúvida sobre como manter o nível de investimento após o esgotamento do fundo. O orçamento de 2025 ainda não foi aprovado, em meio à crise política provocada pelo colapso da coalizão de governo em novembro de 2024. O rascunho orçamentário prevê 53,25 bilhões de euros para a Bundeswehr, um aumento modesto em relação ao ano anterior.
Pistorius pleiteava um valor bem maior, mas não conseguiu convencer o gabinete. Para manter o compromisso de investir 2% do PIB em defesa, a Alemanha precisará de um acréscimo anual entre 28 e 30 bilhões de euros. O bloco conservador concorda com essa estimativa, e o candidato da CDU (União Democrata-Cristã) à chancelaria, Friedrich Merz, declarou que o país precisará de “pelo menos 80 bilhões de euros por ano” para garantir a segurança nacional, ressaltando que isso exigirá “novas prioridades orçamentárias” sem recorrer a mais dívidas.
Enquanto isso, o ministro da Economia, Robert Habeck defende um aumento ainda mais ambicioso, propondo destinar cerca de 3,5% do PIB à defesa nos próximos anos. Para ele, o financiamento deve incluir “um aumento da dívida pública a médio prazo”, conforme o manifesto eleitoral do partido.
Durante a Guerra Fria, a Alemanha investia em média 3% do PIB em defesa, chegando a 4,9% em 1963. Hoje, esse nível parece impraticável diante das restrições fiscais. O consenso, contudo, é que o financiamento da Bundeswehr será um dos pontos-chave nas negociações para formação do próximo governo.