Maior orçamento de defesa, mais soldados e novos bunkers: Alemanha se prepara para a guerra

País gasta cada vez mais com as Forças Armadas, pretende ampliar o efetivo militar e melhorar os abrigos para civis em caso de conflito

“Devemos estar prontos para a guerra até 2029.” O alerta, feito na quarta-feira (5) pelo ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, é compatível com o momento vivido pelo país, que leva cada vez mais a sério a possibilidade de um confronto direito entre os países-membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a Rússia.

A Alemanha vem gastando cada vez mais com suas Forças Armadas, quebrando recordes históricos de investimento em 2023 e 2024. Nos últimos dias, também indicou ter planos para ampliar seu efetivo militar e para reformular o sistema de bunkers, voltados a proteger a população civil em caso de uma guerra.

A declaração de Pistorius, relatada pela rede Deutsche Welle (DW), é apenas mais um capítulo na recente guinada alemã da cautela militar pós-Segunda Guerra para a beligerância que se espalhou pelo mundo nos últimos anos.

Uniforme de militares alemães durante treinamento da Otan em 2024 (Foto: bundeswehr.de)

Em fevereiro deste ano, o relatório “Balanço Militar 2024“, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), alertou que o mundo se prepara para enfrentar uma “década mais perigosa.” E citou a Alemanha como indicativo, devido a seus gastos militares crescentes.

Em 2023, o país europeu gastou US$ 63,7 bilhões com defesa, um recorde histórico, segundo o IISS. Em 2024, a projeção é de que supere essa marca, com US$ 76,8 bilhões alocados para o setor militar. Atingirá, assim, pela primeira vez o piso de 2% do PIB (produto interno bruto) estabelecido pela Otan.

Os números parecem uma resposta adequada a Pistorius. “Devemos estar prontos para a guerra até 2029”, disse ele durante uma sessão na câmara baixa do parlamento alemão, o Bundestag. “Devemos proporcionar dissuasão para evitar que o pior aconteça”, acrescentou.

Uma medida determinada pelo ministro é o recrutamento de novos soldados. “Precisamos de mulheres e homens jovens fortes que possam defender este país”, declarou, ressaltando a necessidade de uma “nova forma de serviço militar” que “não pode ser totalmente isenta de obrigações.”

A manifestação sinaliza a clara intenção do governo de retomar o serviço militar obrigatório, que está suspenso desde 2011 e cuja reintrodução conta com apoio de cerca de metade dos alemães, conforme pesquisa de opinião realizada em março por um instituto local.

O foco nas Forças Armadas não se limita ao ministro da Defesa. O chanceler Olaf Scholz, também na quarta, afirmou que investir na indústria de defesa é uma prioridade do seu governo tanto quanto de seus aliados ocidentais. A preocupação pode ser explicada pelos estoques de munição reduzidos devido ao fornecimento à Ucrânia em função da guerra com a Rússia.

“Hoje, vemos mais claramente do que nunca como é importante ter uma indústria de defesa europeia e alemã que possa produzir continuamente todos os principais tipos de armas e as munições necessárias”, disse Scholz em evento da indústria aeroespacial em Berlim. “O ataque da Rússia à Ucrânia, em violação do direito internacional, apresentou a toda a Alemanha uma nova realidade política de segurança.”

Abrigos antiaéreos

Outra medida do governo voltada a preparar o país para uma eventual guerra é a construção de mais abrigos antiaéreos em áreas densamente povoadas, dando à população civil maior facilidade para se proteger de eventuais bombardeios contra a infraestrutura crítica ou edifícios governamentais.

De acordo com a revista Der Spiegel, o governo designou um grupo de especialistas para analisar a questão, e um relatório será redigido pelo Ministério do Interior, o Departamento Federal de Proteção Civil e Assistência em Desastres e a Agência Federal Imobiliária com vistas a uma conferência marcada para o meio de junho, em Postdam.

Uma prévia do documento, vista pela reportagem, indica que os bunkers disponíveis atualmente são insuficientes para proteger os alemães. Considerando o impacto e a precisão do armamento moderno, são necessários mais abrigos, mesmo que simples, nos quais as pessoas possam se proteger em situações emergenciais, quando não há tempo para grandes deslocamentos.

Os especialistas calculam que seriam necessários cerca mais de 210 mil bunkers novos e maiores que os atuais, a um custo de 140,2 bilhões de euros. O documento cita os exemplos da Finlândia e da Suíça, onde existem espaços capazes de abrigar, respectivamente, 85% e quase 100% de suas populações.

Tags: